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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

A volta dos que foram

Sabemos que numa viagem, a ida parece ser bem mais longa que a volta. Seja a pé, de carro ou avião, o retorno nos surpreende pela sensação de ter sido bem mais rápido, mesmo sabendo que percorremos exatamente a mesma distância.

   Segundo os especialistas, a culpa é do nosso cérebro, onde tentam explicar o fenômeno com duas teorias: da “Expectativa e da Familiaridade”. Eles afirmam que durante a ida, vamos assimilando o caminho a percorrer, absorvendo as paisagens novas e lidando também com a expectativa da chegada em nosso destino. Já na volta, nosso cérebro “entende” que já vimos tudo aquilo e então deixa de prestar tanta atenção nos detalhes, nem guardar as imagens que pululam à nossa frente, por perceber que é um caminho familiar.  Seria  uma economia de espaço em nosso HD mental, digamos, para não guardar informações repetidas e, portanto, irrelevantes .
Pois bem, recentemente cheguei a uma conclusão curiosa, porém bastante sensata. Tenho percebido que as horas, os dias, as semanas, meses e anos estão cada vez mais rápidos. Num dia é segunda e ao piscar os olhos já estamos na sexta. O dia primeiro de cada mês, num instante salta para o dia trinta, quando rasgamos mais uma folha do boleto. Janeiro pula para junho que rapidamente vira dezembro. Então minha conclusão é que definitivamente eu já estou voltando…
Assim como acontece numa viagem qualquer,  minha ida há algumas décadas, foi lenta, arrastada e cheia de novidades para aprender, descobrir e assimilar. Foi uma época de surpresas, descobertas, encantamentos, sonhos e decepções também.
 Durante minha ida, os anos da minha infância e adolescência pareciam não passar nunca.  A época escolar durava uma eternidade diante da imensidão de informações que adentravam em nossa cachola. Porém, logo em seguida vem toda sequência conhecida pela maioria, como  paixões, trabalhos, filhos, etc, etc e etc.
Acontece que chegamos ao destino sem perceber e quando nos damos  conta, já estamos no caminho de volta.  Todavia, quando já estamos  voltando, tudo parece ser “mais do mesmo“ -então nosso cérebro matreiro não preocupa-se mais em guardar as horas da rotina extremamente repetitiva da vida adulta.
Bem, diante dessa constatação, acomodo-me ainda mais na poltrona  e afrouxo o cinto de segurança. Tento então fazer da volta uma experiência relaxante e proveitosa. A ida é interessante pela ansiedade e ineditismo da estrada, mas a volta tem seu valor pelo retorno de onde viemos, carregados de quinquilharias e experiências acumuladas -de preferência, sempre atentos a cada   hora  e a cada quilômetro vivido, sem deixarmos cair na armadilha do nosso cérebro que acredita que tudo é apenas “mais do mesmo”.
Voltar é bom e viver idem. Mostre ao seu cérebro que você deseja apreciar e assimilar tudo, mesmo com a sensação constante de “deja vu”.  Faça sua parte e torne seus dias diferentes, para que os meses pareçam ter valido a pena e não apenas serem mais um boleto vencido.

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