Usuário Legado
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O critério para a liberação das emendas parlamentares é político, mas, neste ano, o Governo transformou as emendas em uma oportunidade- talvez única- de desempoeirar a candidatura de Teotonio Vilela Filho (PSDB) à reeleição.
Mantem-se a forma tradicional e promíscua de tratar os coronéis (deputados estaduais e federais, “donos” destas regiões) e suas bases em sintonia com um projeto de Governo. Não seria diferente se esse Governo fosse do PT, PC do B ou PTB. Chapão ou situação. Direita ou esquerda. Estado inovador ou de gestão forte.
As emendas preservam os currais eleitorais em pleno funcionamento, como era nos tempos do Império, quando Dom Pedro II concedia o título de “coronel” aos líderes destas regiões, capitulando uma sintonia entre as bases distantes do governo carioca.
CAPITANIAS
O coronel era o representante do Estado, que nunca teve condições de atender a todos, neste caso, os despossuídos. Vejam-se as capitanias hereditárias e a concessão das terras aos nobres ou endinheirados da Coroa portuguesa.
Hoje, o deputado é o representante do Estado em cidades transformadas em seus porões, com título honorífico concedido pelo Palácio República dos Palmares.
Preservam-se, com as emendas, os laços entre um Governo e seus coronéis (deputados), continua-se a perversa lógica da miséria e blindam-se prefeitos ou gestões que não buscam estratégias sustentáveis a estas regiões. Muda-se para continuar do mesmo jeito.
A emenda constrói um posto de saúde, mas não cria alternativas para a epidemia de diarréia durante a seca. Ou ergue-se uma escola, sem professores capacitados ou um programa educacional hábil em manter o aluno na sala de aula. A doença continua, o analfabetismo persiste. Mas, o posto e a escola estão ali.
PACOTE DE BONDADES
Na distribuição das emendas, em Viçosa, por exemplo, a Prefeitura receberá R$ 450 mil, do deputado Temóteo Correia; Satuba, através de Cícero Ferro, R$ 30 mil; Jequiá da Praia, do deputado João Beltrão, R$ 100 mil.
Em Jequiá da Praia, dos 11.615 habitantes, 2.890 têm menos de um ano de estudo; nenhuma pessoa com mais de quinze anos de estudo, ou seja, um universitário; 2.302 têm menos de um salário mínimo. Apenas 65 pessoas recebem mais de 5 a 10 salários mínimos. 5.162 não têm nenhum rendimento. Vivem, talvez, dos programas federais.
Em Viçosa, berço de intelectuais alagoanos, um dia inspiração de Graciliano Ramos no livro Infância (viveu, quando criança, por lá), 60,86% é considerada, pelo IBGE, pobre. Dos 26.830 habitantes, 5.872 têm menos de um ano de estudo; 5.508 têm renda até um salário mínimo; 44 recebem mais de 20 salários mínimos; 11.437 não possuem rendimento nenhum; e a renda média de quem mora em Viçosa mexeria no humor de qualquer escritor: R$ 282,08. Menos de um salário mínimo.
Em Satuba, na mistura entre política e a violência da bala, símbolo da covardia e do coronelato, 57,45% da população é considerada pobre. Dos 14.779 habitantes, 1.582 não têm um ano de estudo; 1.840 têm rendimento até um salário mínimo e apenas 18 pessoas estão com renda acima de 10 salários. Média salarial na cidade: R$ 358,17.
UMA FANTASIA DOS AGREGADOS DO REI
As emendas não alteram a realidade, mas ganham ares de fantasia no dia da inauguração de qualquer coisa. É que em meio aos fogos de artifício e os discursos dos coronéis, mostra-se a permanência do Brasil mais colonial ou das priscas eras mais medievais: o título das emendas pertence sempre aos cavaleiros preferidos do Rei.