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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Bem e mal

Analisando as postagens políticas furiosas dos perfis que sigo no Instagram, sejam a favor do Bolsonaro ou a favor do Lula, percebi uma coisa curiosa, sobretudo entre os mais inflamados: os argumentos são sempre supostamente  a favor do bem.  Eu explico.

  Os apoiadores do atual presidente sentem-se no meio de uma cruzada ufano-religiosa defendendo valores inquestionáveis, como Deus, família e pátria. Colocam-se de um lado da trincheira com a faca nos dentes  para conter as hordas “comunistas” que pretendem a tudo e todos destruir. Querem também espalhar miséria, tomar os nossos bens, e,  além do mais,  impor uma sociedade sexualmente mais plural e “banda voou”,  com gente que gosta mesmo é de moleza e dinheiro público. Como não ser contra tudo isso, meu Deus?
Já os que defendem o Lula e o PT, estão entrincheirados e armados com as  melhores intenções possíveis, principalmente a de tornar a vida de todos bem melhor. Acreditam numa sociedade igualitária onde o Estado tem por obrigação aparar arestas sociais e econômicas, bem como  incentivar e apoiar as diversidades de gêneros e raças, sempre corrigindo eventuais injustiças, contemplando as minorias com programas benevolentes e reparadores. Como ser contra tudo isso, meu Deus?
Acontece que, ideologias à parte, cada lado acha que está do lado do bem, e pela lógica, quem não está do lado do bem está do lado do mal. Sim, o Mal, que pode vir na figura de Lula, Bolsonaro, Stálin, Fidel ou o próprio Capirôto. E é aí que a coisa torna-se perigosa —quem acredita estar agindo sob o manto da verdade e do bem, imediatamente adquire um passaporte ou uma licença,  para usar, quando necessário,  medidas, digamos, mais extremas contra o suposto inimigo.  A história nos mostra contextualmente onde isso nos leva.
 Portanto, desafio ver alguém que assuma que suas escolhas não o faz pertencer ao lado do bem, ao lado dos cheios de boas intenções , mas sim por puro pragmatismo político e interesse pessoal. Por exemplo, se sou um funcionário público federal, geralmente agraciado com a generosidade dos partidos de esquerda, não preciso criar justificativas mirabolantes para explicar meu voto.  Nem se sou conservador e adoraria me armar até os dentes para me defender dos bandidos, não precisaria usar explicações reducionistas e preconceituosas —afinal ninguém deveria acreditar que suas verdades sejam absolutas e tudo que delas divergem pertençam ao lado negro da força.
O importante então é entendemos que política não é um confronto épico do Bem contra o Mal —isso pertence ao campo das religiões e dos filmes de ação.  Política é pragmatismo e vigilância, cobrança e informação -e quanto menos idolatria houver, melhor.  Como não ser a favor disso, meu Deus ?

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