Blog

Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Bigodão

Na Copa de 82 a Seleção Brasileira tida como a favorita da competição, foi eliminada numa partida dramática contra a Itália. Na Copa seguinte fomos eliminados nos pênaltis contra a França, onde o craque Zico perdeu um pênalti no segundo tempo quando o jogo estava empatado. Em 1990 perdemos da Argentina no segundo tempo  por um gol, apesar de estarmos jogando melhor. Não me lembro, sinceramente, de ter visto pela TV uma única lágrima derramada pelos jogadores da época. Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, Dunga, Elzo, entre outros, nenhum deles abriu o berreiro após as frustrantes eliminações – se o fizeram foi no vestiário, embaixo do chuveiro. Aliás, nenhum deles tinha 30 tatuagens pelo corpo,  muito menos cabelos degradês milimetricamente esculpidos em gel. Era todos  com cara de macho, bigodudos e com aparência de mais 40 anos. Era uma geração de jogadores que refletia a juventude da época, sem muita frescura e com foco só no futebol. Ganhar e perder fazia parte do jogo -não só dos gramados , mas também da vida. Palavras como “frustração”, “pressão psicológica” e “estresse” eram pouquíssimas usadas à época. Jogadores falavam o que lhes vinham à telha e não era treinados por equipes de marketing para darem entrevistas esterilizadas de emoção e conteúdo.

  O que vemos nessas últimas copas é meramente o reflexo dessa geração atual de jovens que não aguenta nada, sobretudo perdas e frustrações.   São individualistas e crescem acreditando serem especiais e que o mundo está sempre em dívida com eles, de alguma forma. Hoje vemos capitães de seleções chorando feito bebês. E por que exatamente? Porque estão sendo pressionados a vencer, ora…
  O cantor Pablo afirma com sua voz efeminada que “homem não chora”,  mas trata-se, obviamente, de um exagero machista; podemos chorar sim, no escurinho do cinema ou sofrendo por um amor que nos deixou. Mas, abrir um berreiro porque não consegue bater um pênalti decisivo, ou porque marcou um gol nos acréscimos no segundo jogo da Copa, é, no mínimo, sinal de  imaturidade e instabilidade emocional.
 Atletas de ponta são pessoas que, além de possuírem grande habilidade técnica e alto rendimento físico, conseguiram um domínio acima da média do lado emocional. Quantos “ Pelés” não se acabaram no meio do caminho por não terem conseguido domar o leão ou o gatinho que habitavam dentro de si?
  Acho que está na hora de cortarem os cabelos -ou ao menos os assanharem- e meterem um bigodão para ficar com mais cara de maus. Esporte é assim mesmo, uns ganham e outros perdem. Chorar até pode, mas deixem para chorar no vestiário embaixo do chuveiro, como talvez faziam os jogadores bigodudos.

Veja Mais

Deixe um comentário