Luis Vilar
Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.
O Instituto Médico Legal Estácio de Lima (IML) de Maceió é problema antigo. Na gestão do governador Ronaldo Lessa (PDT), o órgão passou até por reforma, mas não perdeu o singelo apelido de “sucursal do inferno”. Em tempos mais distantes ainda, como já denunciou o ex-vereador George Sanguinetti, foram enterrados milhões sob a desculpa da construção de um novo IML, que nunca saiu do papel.
Na prática, há mais de uma década o IML funciona de forma precária e sem conseguir atender a demanda, principalmente diante do galope desenfreado da violência. Porém, chama a atenção a forma como são tratados os corpos sem identificação que chegam ao Instituto. Não cabe aqui julgar os mortos: se são vítimas de acertos de contas entre bandidos. Um fato é certo: é uma barbárie, em pleno século XXI, famílias não poderem enterrar seus mortos, ou nunca mais ouvir falar sobre os desaparecidos.
Um absurdo sem cabimento. Um homicídio causa – dentro de uma família – uma avalanche de acontecimentos incomensuráveis. É uma mutilação injustificável, independente dos motivos que se leve à morte. Só os que perderam entes queridos para a violência sabe bem o que é isso. Exemplo recente a ilustrar a questão é dos quatro irmãos mortos. Independente de quem sejam, a mãe acabou por falecer ao saber da notícia.
Assustador um sepultamento com cinco caixões da mesma família. Imagine então os parentes que sequer sabem o destino dos desaparecidos, que podem estar na estatística dos 101 corpos não identificados. Ora, nada mais justo do que a implantação de um Banco de Dados para esta tarefa, coletando dados das famílias, diretamente nas delegacias, assim que fosse prestada a queixa do desaparecimento.
Desta forma, caberia ao IML coletar dados dos mortos par fazer o cruzamento com os das famílias, por meio do DNA. Isto nunca foi feito. O professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Antônio Ferreira, lembra que isto pode ser feito a custo zero, pois um banco de dados já existe, bastando apenas o integrar de informações e as parcerias entre os órgãos. Mas, o IML – de acordo com o próprio Luiz Antônio – sempre se manteve distante e arisco. Nas palavras do próprio professor, não houve vontade política.
Quem mais sofre com isto? O lado mais fraco da questão. Nem mais o morto, que já desapareceu do rebanho de condenados. O sofrimento faz morada nas famílias enlutadas, que não possuem sequer direito a velório ou sepultamento. Do outro lado da cidade, no Cemitério Divina Pastora, restos mortais de indigentes se amontoam feito lixo. O Banco de Dados é uma necessidade urgente e de simples implantação.
Conforme Luiz Antônio, mesmo com a precariedade do IML de Maceió é possível fazer esta coleta de material dos tecidos mortos e extrair o DNA para as comparações. É só uma questão de vontade. Do Centro de Perícias Forenses, presidido por Alberi Espíndola, vem uma lufada de esperança. O diretor pretende – segundo ele mesmo – implantar, em sistema de parceria com Luiz Antônio, uma rotina técnica para trabalhar com o material coletado dos indigentes.
É de extrema importância que isto ocorra, sobretudo para famílias angustiadas. Alagoas possui casos emblemáticos de pessoas que não puderam enterrar seus mortos, ou então nem saber se pessoas desaparecidas há décadas, com fortes suspeitas de vítimas da violência, morreram ou não. Alguns casos envolvem pessoas influentes. Em pelo menos um deles, um vereador é citado. Em outro, um delegado.