No impactante filme O Resgate do Soldado Ryan, chamou a minha atenção o personagem Sargento Michael Horvath interpretado pelo ótimo ator Tom Sizemore que, no início do filme, no impressionante e sangrento desembarque na Normandia no Dia D, estava medroso e cauteloso ao extremo, rastejando pelo chão com uma chuva de balas zunindo sobre sua...
No impactante filme O Resgate do Soldado Ryan, chamou a minha atenção o personagem Sargento Michael Horvath interpretado pelo ótimo ator Tom Sizemore que, no início do filme, no impressionante e sangrento desembarque na Normandia no Dia D, estava medroso e cauteloso ao extremo, rastejando pelo chão com uma chuva de balas zunindo sobre sua cabeça. Mas, à medida que o filme foi avançando e aumentando a tensão e o perigo, o sargento foi tornando-se cada vez menos temeroso beirando a inconsequência – que fique bem claro que ele não foi ficando corajoso e destemido, ele apenas foi aos poucos ignorando todos os perigos de uma guerra, como se aquilo tudo fizesse parte da paisagem.
Ao final, nas últimas cenas, ele caminhava ereto tranquilamente dando ordens em pleno campo de batalha, alheio aos tiros de metralhadoras e canhões que raspavam suas orelhas.
Chega a ser cômico o destemor gradativo que o levou a “ligar o foda-se“, completamente alheio às ameaças letais das forças inimigas.
Lembro bastante dessas cenas do filme quando vejo o que vem acontecendo nesse momento em plena pandemia em nosso país.
Inicialmente, quando o terrível Covid-19 desembarcou no Brasil, as pessoas realmente compraram a ideia da necessidade do isolamento e se fecharam cada uma nos seus respectivos quadrados, munidos com um grande estoque de álcool em gel e máscaras coloridas .
O temor da morte iminente, deixou as pessoas medrosas levando algumas até ao desespero, como vimos em inúmeros casos próximos e distantes de nós.
Acontece que à medida que os meses foram passando, o Covid foi tornando-se parte da paisagem, assim como as balas zunindo sobre a cabeça do Sargento Michael, mesmo continuando sendo a maior ameaça biológica da nossa história recente.
Portanto, já vemos imagens de dezenas e até centenas de pessoas aglomeradas em bares, lojas, bancos e repartições – até no meio da rua, muitas sem capacetes (ops!, máscaras) totalmente alheias à ameaça invisível que se multiplica a todo momento, muitas vezes levando consigo o sopro da morte. Mas, todo mundo parece já não estar nem aí.
Vemos a todo instante o comércio cheio, filas enormes e a gradativa diminuição do consumo de álcool para descontaminar e o aumento de álcool para beber – êêê mundão velho de guerra, sô…
Essa semana, com a reabertura dos bares e restaurantes, resolvi fazer um happy hour num barzinho que frequento eventualmente e me deparei com vários Sargentos Michael no balcão, sem máscaras, cumprimentando-se uns aos outros com abraços e apertos de mãos, abandonando de uma vez o ridículo cumprimento com os cotovelos.
À certa altura, ouvi de um deles uma frase engraçada e preocupante ao mesmo tempo:
– Porra de coronavírus!!!
É, parece que já ligamos o foda-se mesmo com vírus e balas de canhão voando no ar…