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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Caso complicado

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Seguro em minhas mãos os exames da próxima paciente a entrar, a qual não reconheço de imediato. Então peço ajuda à minha atendente.

 

– É aquela paciente, doutor, que é super complicada!

 

Eu então me exaspero e me armo até os dentes – sem trocadilhos:

 

– Como assim, super complicada???

 

– É uma que o caso dela é bem difícil e complicado de se tratar. Mas, ela é muito gente boa!

 

Suspiro aliviado naquele início de manhã e desabafo:

 

– Minha filha, hoje em dia estou preferindo dez casos complicados em minha vida a um paciente complicado. Prefiro a previsibilidade e controle de um tratamento mesmo sabendo ser difícil, do que um paciente que me faça perder o humor num dia.

 

Pois é, perdoem o desabafo de um profissional com muitos anos na praça e que já conheceu os chamados “pacientes-problema” em todas as suas idades, gêneros,  matizes, formas, texturas e cheiros, e que sabe muito bem quais as consequências emocionais de estar frente à frente de um cliente como esse por meses ou, às vezes, anos a fio.

 

Existem outras definições para essa categoria de cliente, como por exemplo: paciente-cabuloso, paciente-chatildo, paciente-encrenca ou, finalmente, paciente-estraga-tarde. É aquele que no momento em que ele se vai e a porta se fecha, dentista e atendente soltam um sonoro “ufa!”, seguido por uma circulada ligeira dentro da sala, balançando a cabeça e os braços para espantar a zica.

 

Achei oportuno, portanto, fazer essa observação sobre  aquele paciente que complica, emperra, trava, insiste, questiona, discorda e aborrece ao ponto de pertencer ao grupo de “melhor nem começar o tratamento “; mas, ainda assim, volta e meia não ouvimos os alertas de nossa intuição e quando vemos,  estamos no meio do tratamento de alguém que certamente também é um vizinho-problema, cunhado-problema, filho-problema, primo-problema, colega-problema, cliente-problema, enfim,  aquele que testa a nossa paciência e emperra o azeitamento das boas relações. Interpretar sinais para reconhecer a pessoa-problema, é talvez uma das maiores necessidades nas relações comerciais e pessoais, para que uma vez identificado esses indivíduos, possamos nos defender ou nos proteger sem sermos pegos de surpresa mais à frente.

 

A pessoa-problema é aquela encrenqueira na fila, no trânsito, no condomínio, na reunião de pais da escola, no avião, em grupos do WhatsApp, na recepção e na cadeira do dentista. Poderia aqui tentar aprofundar-me nos porquês dessas pessoas serem assim, mas temo ficar preso no visgo de suas personalidades. Melhor as deixarmos com seus eternos queixumes e de preferência bem longe dos nossos consultórios.

 

-Pode mandar entrar a próxima!- peço tranquilo e com um sorriso nos lábios.

 

 

 

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