Seguro em minhas mãos os exames da próxima paciente a entrar, a qual não reconheço de imediato. Então peço ajuda à minha atendente. – É aquela paciente, doutor, que é super complicada! Eu então me exaspero e me armo até os dentes – sem trocadilhos: – Como assim, super complicada??? –...
Seguro em minhas mãos os exames da próxima paciente a entrar, a qual não reconheço de imediato. Então peço ajuda à minha atendente.
– É aquela paciente, doutor, que é super complicada!
Eu então me exaspero e me armo até os dentes – sem trocadilhos:
– Como assim, super complicada???
– É uma que o caso dela é bem difícil e complicado de se tratar. Mas, ela é muito gente boa!
Suspiro aliviado naquele início de manhã e desabafo:
– Minha filha, hoje em dia estou preferindo dez casos complicados em minha vida a um paciente complicado. Prefiro a previsibilidade e controle de um tratamento mesmo sabendo ser difícil, do que um paciente que me faça perder o humor num dia.
Pois é, perdoem o desabafo de um profissional com muitos anos na praça e que já conheceu os chamados “pacientes-problema” em todas as suas idades, gêneros, matizes, formas, texturas e cheiros, e que sabe muito bem quais as consequências emocionais de estar frente à frente de um cliente como esse por meses ou, às vezes, anos a fio.
Existem outras definições para essa categoria de cliente, como por exemplo: paciente-cabuloso, paciente-chatildo, paciente-encrenca ou, finalmente, paciente-estraga-tarde. É aquele que no momento em que ele se vai e a porta se fecha, dentista e atendente soltam um sonoro “ufa!”, seguido por uma circulada ligeira dentro da sala, balançando a cabeça e os braços para espantar a zica.
Achei oportuno, portanto, fazer essa observação sobre aquele paciente que complica, emperra, trava, insiste, questiona, discorda e aborrece ao ponto de pertencer ao grupo de “melhor nem começar o tratamento “; mas, ainda assim, volta e meia não ouvimos os alertas de nossa intuição e quando vemos, estamos no meio do tratamento de alguém que certamente também é um vizinho-problema, cunhado-problema, filho-problema, primo-problema, colega-problema, cliente-problema, enfim, aquele que testa a nossa paciência e emperra o azeitamento das boas relações. Interpretar sinais para reconhecer a pessoa-problema, é talvez uma das maiores necessidades nas relações comerciais e pessoais, para que uma vez identificado esses indivíduos, possamos nos defender ou nos proteger sem sermos pegos de surpresa mais à frente.
A pessoa-problema é aquela encrenqueira na fila, no trânsito, no condomínio, na reunião de pais da escola, no avião, em grupos do WhatsApp, na recepção e na cadeira do dentista. Poderia aqui tentar aprofundar-me nos porquês dessas pessoas serem assim, mas temo ficar preso no visgo de suas personalidades. Melhor as deixarmos com seus eternos queixumes e de preferência bem longe dos nossos consultórios.
-Pode mandar entrar a próxima!- peço tranquilo e com um sorriso nos lábios.