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Deputados divididos, indiciados pela Polícia Federal, a ala esquerdista desnorteada, suplentes sem formar ainda uma bancada sólida no Legislativo, os governistas em silêncio, pressão de deputados afastados para a formação de uma nova Mesa Diretora.
Mais uma semana termina na Assembléia, com um quadro nada animador para o fim da crise e, consequentemente, os ajustes necessários para a aprovação de projetos, discussões com a sociedade, enfim: a Casa de Tavares Bastos cumprindo o próprio papel.
Esse modelo antigo de fazer política, existente na Assembléia, se conflita com as novas relações sociais e econômicas da sociedade alagoana. Essa é a análise do historiador Golbery Lessa, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Para ele, está havendo choques entre um modelo antigo de se fazer política, herança dos coronéis, e o novo, da sociedade urbana e da classe média, com uma visão mais moderna e profissional do mundo.
Esse tipo de visão, segundo ele, é influenciada pela diminuição da importância econômica do setor sucro alcooleiro. Com a perda da hegemonia do açúcar, e, consequentemente, da força econômica.
Em sua análise histórica, no século XX, houve um “vazio” de poder. Havia a indústria têxtil, as usinas de açúcar e a burguesia comercial da Jaraguá, então próspera na época. Essa burguesia detinha mais poder econômico. “Esses blocos nunca conseguiram se articular, do ponto de vista político. Por isso, havia esse vazio do poder”.
Na década de 50, com a eleição do governador Muniz Falcão, abre-se o precedente para o governo dos operários. Mas, há também o crescimento do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), a base de apoio dos usineiros para “blindar” o setor contra as crises. Muniz sai de cena, os barões de Jaraguá, sem incentivo financeiro, vão a falência; a indústria têxtil foi a bancarrota. Sobram os usineiros. Era também a soberania do voto de cabresto: elegia-se alguém sem preocupação com o debate das idéias, mas para perpetuar os ideais do açúcar.
Mas, Maceió cresce, algumas cidades do interior buscam o comércio como alternativa econômica e tudo isso começa a mudar: a classe média altera seus padrões, a capital torna-se cosmopolita. Novos padrões entram em choque com os antigos.
E a mudança do Governo Federal também alterou as expectativas: “Então, o Governo Federal olhou para cá e disse: não é possível, um grupo de deputados com uma rede em secretarias, setores do Judiciário. Isso é um perigo para o estado de direito. Um perigo para convulsões locais. Um perigo via máfia. O Governo interviu para não perder um estado da nação e nisso está ficando claro todos este processo. O Governo faz direto sem mediação, porque não há mediação local”, explica.
“A esquerda e a centro esquerda paralisaram porque mostrou-se que eles tinham práticas análogas [a dos deputados afastados]. Não há como se provar isso, mas tinham”, explica.
Para Lessa, isso influenciou inclusive na composição da nova Mesa Diretora, cuja legalidade da eleição antecipada do deputado Fernando Toledo (PSDB) é questionada pela Justiça.
“As usinas aceitaram retirar seus antigos gigantes. Os antigos podem espernear. Não se faz o mal contra eles. Os deputados pretendem enfrentar a opinião pública, um erro deles”, avalia. A nova mesa é uma alternativa “soft” para a antiga.
Uma situação que põe em risco até os suplentes, que apoiaram a recomposição da Mesa com o argumento que o deputado Antônio Albuquerque (sem partido), para o cientista, apoiado pelas usinas.
“Essa jogada dos suplentes de apoiar a Mesa é insustentável porque é anacrônico, sendo os suplentes das lideranças urbanas. Os suplentes estão sendo achatados”, explica.
E tudo isso pode refletir-se em 2010. Um povo mais crítico e menos cingido pelo cabresto.