A religião é uma ideia coletiva cuja finalidade principal é sentir-se poderoso. Na antiguidade, o homem primitivo se achava inferiorizado diante dos fenômenos da natureza que lhes cercavam – sua fragilidade e impotência o tornava uma mera formiga em cima de uma folha sobre o oceano. Era frágil e finito. Envelhecia e adoecia – aliás,...
A religião é uma ideia coletiva cuja finalidade principal é sentir-se poderoso. Na antiguidade, o homem primitivo se achava inferiorizado diante dos fenômenos da natureza que lhes cercavam – sua fragilidade e impotência o tornava uma mera formiga em cima de uma folha sobre o oceano. Era frágil e finito. Envelhecia e adoecia – aliás, como
até hoje – e buscava abrigos durante tempestades, nevascas, terremotos e secas prolongadas. A ideia de um Deus poderoso que cuidava de todos e ainda por cima era sua imagem e semelhança, lhe deu uma sensação de poder jamais experimentada. De repente, o frágil homem passou a ter uma relevância inédita na história da Terra – bastava agradar seus divinos protetores que seria recompensado aqui e em outra vida – sim, até a morte fora vencida. Tornamo-nos até imortais, ainda que em um outro plano – o homem finalmente passara a ser poderoso.
A continuação da história já sabemos bem: uns nomearam-se representantes desses deuses aqui na terra e com isso, tornaram-se mais poderosos que os demais – então julgaram, conquistaram e executaram – tudo em nome dos seus deuses.
Embora acreditemos que foram pecados do passado, até hoje esses mesmos representantes ainda cometem seus pecados divinos. Séculos depois da Santa Inquisição ou das Cruzadas, por exemplo, os fanáticos do Islã ainda matam infiéis em nome de seu Deus.
Toda religião tem seu punhado de devotos que fazem uma leitura distorcida desse “poder” que supostamente passam a possuir no momento que sentem-se parte escolhida de algo bem maior – é a sensação de pertencimento que leva muitos à soberba de acharem-se os detentores da verdade absoluta; por si só um grande perigo, diga-se de passagem.
Pois bem, todo esse preâmbulo foi para chegar onde eu queria: a revelação que o médium João de Deus era na verdade o João do Capiroto – um monstro sexual incontrolável, cuja fúria erótica era canalizada e executada pela via religiosa. Aproveitava-se da condição de escolhido com poderes mágicos, inclusive, para dar vazão à sua doença monstruosa e compulsiva, sem se importar com seus objetos de prazer – era, afinal, o eleito do mundo místico e espiritual para espalhar suas benesses aqui na Terra com curas milagrosas, passes místicos e canal direto com o mundo dos espíritos.
Já vimos essa história em praticamente todas as religiões – padres, pastores, rabinos, gurus, pais de santo, monges e outros líderes religiosos que utilizam a linguagem religiosa para enganar, seduzir, conquistar e até estuprar, roubar e matar. Muitos dos que os procuram estão em busca de algo que lhes falta, tornando-se potenciais vítimas desses falsos profetas.
Porém, quando colocados numa balança, entendo que a maioria honesta e digna promova muito mais acertos e benefícios que a minoria que se destaca ruidosamente na mídia – religião, portanto, continua sendo uma das maiores invenções e conquistas da humanidade.
Ainda assim é bastante oportuna a lembrança da frase do italiano Giuseppe Mazzini que dizia lá no século XIX que “Antigamente se penduravam os criminosos nas cruzes. Hoje as cruzes estão penduradas nos peitos dos criminosos.”