Luis Vilar
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Sarney diz que não se sente culpado de absolutamente nada em relação às denúncias que foram arquivadas pelo Conselho de Ética do Senado Federal. Eu acredito no presidente do Senado, José Sarney (PMDB). De fato o ex-presidente do Brasil não deve se sentir culpado, o que não quer dizer que não o seja. O caso de Sarney mostra as vísceras do homem-político.
Com a prática pelos caminhos de bastidores, acordos, lobismos, nepotismos e outras práticas não tão confessáveis, o homem-político se eleva para além do bem e do mal. A genealogia de sua ética e valores não são mais as mesmas cultivadas, muitas vezes, pelas ideologias, sonhos, esperanças que permanecem no corner oposto das casas legislativas.
A malversada prática política – tão exercitada na Terra dos Marechais – extrai destes homens – que se sentem gigantes, mas são mesquinhos e pequenos em suas declarações, imagens e atos desprezíveis – a consciência, o senso do errado e do certo; extrai a alma.
São homens, muitas vezes ocos, que se recheiam de poder. Muitas vezes, do poder pelo poder. São as consequências da arte de furtar, sequenciada pela arte de mandar, dentre outras artes-mães de todo mal que paira sobre a frágil democracia brasileira, sobre suas instituições plutocráticas, que vão do Legislativo, passam pelo Executivo e chegam ao Judiciário.
Os três poderes reféns de uma plutocracia de homens que não sentem “culpa de nada”. Eles não sentem. Perderam de fato a sensibilidade social. O único lugar onde ela ainda aparece é na retórica, na oratória e nos disfarces. Se lá há um Sarney, aqui temos os deputados estaduais que também não se sentem culpados de nada. A culpa não pesa sobre eles. Portanto, o que deve pesar é a Justiça, sólida e cega. Mas, esta também é refém – repetimos – da plutocracia.
No estilo do manda quem pode, obedece quem não tem juízo, seguem os roubos, os homicídios, os crimes, e demais delitos patrocinados direta ou indiretamente por esta turma de paletós negros com bolsos profundos, onde cabem latifúndios, verbas de gabinetes, almas, mimos de luxo…
Sarney não se sente culpado. A maioria dos homens-políticos não se sentem culpados pelo inverso do toque de Midas que carregam nas mãos. Aqui, Fernando Toledo não deve se sentir culpado por ter entrado noite adentro em reuniões ocorridas em meio a sombras e trevas para não permitir que se afaste do parlamento – lugar das divergências de idéias e embates produtivos (na teoria) – um deputado que responde a nove ações penais, que vão de desvio de recursos a crimes de mando. Afastar não é julgar, mas permitir condições de um julgamento justo, longe do manto da imunidade parlamentar.
Mas, que culpa tem Toledo? A mesma de Sarney? Aliás, de quem é a culpa de um parlamento que possui mais da metade de seus membros indiciados em inquéritos substanciosos? Quem constrói o caminho que leva a raposa ao galinheiro? Lembro-me de uma música dos anos 80 que diz assim: “Quem ocupa o trono tem culpa/ Quem oculta o crime também/ Quem duvida da vida tem culpa/ E quem evita a dúvida também tem” (Humberto Gessinger). E nós nesta confusão toda, Somos Quem Podemos Ser?