Não deveria ter deixado tomar conta de mim, mas depois que adquirimos, primeiro o conhecimento e por fim o hábito, fica mais difícil nos livrarmos deles. Minha profissão exige no meu dia a dia um bom controle da contaminação cruzada, que nada mais é que a transferência de microrganismos entre indivíduos e/ou objetos, que podem...
Não deveria ter deixado tomar conta de mim, mas depois que adquirimos, primeiro o conhecimento e por fim o hábito, fica mais difícil nos livrarmos deles.
Minha profissão exige no meu dia a dia um bom controle da contaminação cruzada, que nada mais é que a transferência de microrganismos entre indivíduos e/ou objetos, que podem causar algum tipo de doença. Então rotineiramente minha mente já funciona atenta sobre onde e quando pode haver alguma contaminação. Acontece que, inevitavelmente, essa conduta extrapola o mundo profissional e se estende para o meu cotidiano. É exatamente a isso que me referi no início do texto: a ideia que existem trilhões de microrganismos patogênicos espalhadas por toda parte -inclusive suspensos no ar- e os cuidados, exagerados ou não, que devemos tomar por conta disso.
Entretanto, não me considero paranóico ao ponto de viver com álcool gel e lencinhos umedecidos por toda parte, muito pelo contrário; na maior parte do tempo sou bastante relaxado e sem grandes obsessões quanto a isso. Porém, se tem uma coisa que me incomoda mesmo é a quantidade de vezes que temos que colocar nossos dedos nos objetos eletrônicos do nosso dia a dia, sobretudo nos lugares públicos, sempre sujeitos às contaminações cruzadas, devido ao imenso número de dedos que por ali passam, e que estiveram antes sabe Deus onde. É catraca eletrônica, teclado de máquina de cartão de crédito e caixas eletrônicos, botões de estacionamentos de shopping, botões de elevadores e mais um catatau de lugares que somos obrigados a enfiar nosso limpo dedinho a fim de acessar o que desejamos.
Bem, a solução por mim encontrada foi sacrificar o meu pobre dedo mindinho. Isso mesmo, ele é o meu boi de piranha. É ele quem uso para digitar quase tudo na rua, mantendo-o na maior parte do dia contaminado e sujo -pobre mindinho- até encontrar uma torneira e sabão pela frente.
Bem, por causa disso ele é discriminado entre seus irmãos maiores da mesma mão. Com ele não conto para nada a não ser para as benditas digitações. Eventualmente uso-o também para acionar o botão da descarga, apagar interruptores e abrir fechaduras de banheiro, delegando-o sempre para as missões mais espinhosas às quais os demais não encaram.
Deixe estar, dedo mindinho. Reconheço seu heróico sacrifício pelo bem da minha saúde. Assim posso manter meus outros dedos limpos para comer pipoca, coçar o olho, ouvido e até mexer no celular, enquanto o coitado fica lá, isolado dos demais como um verdadeiro pária. Desconfio até que talvez esse não seja um hábito exclusivo meu, a julgar pela maneira que algumas pessoas seguram a xícara de café –lá está o mindinho em riste, afastado dos demais, preparado apenas para digitar a senha do cartão quando chegar a conta.