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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

É o horror!

  1. Acompanho a uma distância prudente – nem alheio, nem tão envolvido – os últimos acontecimentos na escola em Suzano no estado de São Paulo, onde dois jovens entraram atirando e metendo a machadinha em quem estivesse à frente, emulando aqueles massacres tão comuns nas escolas americanas e, logicamente, não consigo ficar indiferente diante de tamanha tragédia. Chegam às minhas mãos imagens e vídeos onde constato que não, não existem limites para a maldade, estupidez, loucura e brutalidade humana. 

    A sociedade evolui, a tecnologia evolui e todos nós temos a sensação de estarmos na direção de um mundo cada vez mais maravilhoso – sim, ao contrário do que pensam os pessimistas e

    apocalípticos, as relações humanas estão cada vez mais polidas e regradas,  com o nobre intuito de se apararem  arestas e tornar o mundo um lugar melhor para se viver. Acontece que individualmente, a mente humana nem sempre acompanha esse pretenso bem-estar, então volta e meia ocorre uma explosão de insensatez e violência, onde o ser humano parece retornar ao estado mais primitivo, selvagem e cruel. 

    Como explicar dois jovens até então tidos como normais, entrarem numa escola cheia de crianças e jovens e, indiferentes a tudo e a todos, saírem atirando em pessoas indefesas que nenhum mal lhes fizeram. Não desejam roubar, nem vingança pessoal, porém põem máscaras, empunham armas, trincam os dentes e espalham sangue pelas paredes da instituição escolar.  É o horror, é o horror!

    Lembro-me que  em 2015, um piloto com intenções suicidas jogou seu avião com 150 pessoas nos Alpes franceses, realizando seu intento e levando consigo mais de uma centena de inocentes que nada tinham a ver com sua vida – ou com sua morte. 

    Ao compararmos casos tão distintos nos meios e tão semelhantes nos fins, percebemos que a mente humana ainda é subestimada e desconhecida em toda sua complexidade. A alta tecnologia, rígidos protocolos de segurança aérea, treinamentos e monitoramentos intensos são ineficazes ante ao simples desejo do piloto – ou seja, a parte humana – de se matar e insensatamente levar outras pessoas consigo – seja injetado de ódio ou carregado de tristeza e desapego à própria vida. 

    Outra observação que faço em cima deste caso recente, é que nunca vemos acontecer tragédia semelhante numa tribo miserável africana, por exemplo – lá os massacres são por outras razões igualmente insensatas, selvagens e absurdas, mas não por jovens aparentemente saudáveis e com um razoável nível social, que de repente resolvem revoltar-se “contra tudo que há aí” e saem matando inocentes em escolas, parques e cinemas. Não vemos na África, nem no Oriente, apenas em países desenvolvidos ocidentais como EUA e Noruega, por exemplo. E o que o Brasil que nem desenvolvido é, está fazendo no meio dessas estatísticas? Bem, está claro que a mente humana é capaz de muita coisa, inclusive imitar e desejar fazer algo relevante dentro da sua loucura que parece lógica para si. Quando uma sociedade reclassifica seus valores, frustrações, raivas, invejas, depressões, medos e ressentimentos, são combustíveis para atos como esses. Viver em sociedade é bom, mas traz essas e outras terríveis consequências. Se uma mente humana é capaz de planejar e desejar o mal para os outros e para si, imagine milhares ou milhões dividindo o mesmo exíguo espaço.

    Temos muito a aprender sim, e buscar explicações individuais e coletivas para minimizarmos esse danoso efeito colateral da dita civilização.

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