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Entrevista para o blog: João Pedro Stédile

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João Pedro Stédile

"Maloqueiros", "vagabundos", "desordeiros". Estes são alguns dos adjetivos empregados para se referir aos movimentos os trabalhadores rurais sem-terra. Não é a mesma opinião do coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, um dos fundadores do MST.
Nesta entrevista exclusiva ao blog, Stédile fala dos adjetivos qualificando os trabalhadores, critica o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e diz o porquê da luta pela terra ainda não ter acabado no Brasil: "O nosso país ocupa a segunda posição mundial em concentração de terras, ficando apenas atrás do Paraguai, onde atuam latifundiários brasileiros".
A entrevista tem duas partes. Acompanhe a primeira:

Setores da sociedade têm um conceito emblemático ou polêmico dos movimentos sociais de luta pela terra: são “maloqueiros”, “desordeiros”, “vagabundos”. Qual a visão do MST sobre os próprios movimentos de luta pela terra?

JPS- As lutas dos trabalhadores rurais e dos movimentos sem-terra são uma reação à violenta concentração da terra e à pobreza no campo, que marcam toda a nossa história. Diante dessa situação, os trabalhadores rurais têm duas alternativas: lutar para fazer valer os seus direitos ou se submeter à péssimas condições de trabalho oferecidas pelo agronegócio ou ir para as cidades morar nas favelas. O nosso país ocupa a segunda posição mundial em concentração de terras, ficando apenas atrás do Paraguai, onde atuam latifundiários brasileiros. No entanto, os meios de comunicação atacam o nosso movimentos e todas as lutas dos trabalhadores, porque defendem os interesses da classe dominante, que quer impedir qualquer mudanças. Apesar disso, temos apoio da sociedade, principalmente dos pobres, que sabem que a nossa causa é justa e ajudam nossos acampamentos por todo o país.

Luta pela terra no Brasil. O Governo Lula colocou em prática uma política dita de desenvolvimento, através do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Até que ponto essa dita política contribui para o desenvolvimento do campo ou distribuição das terras? Ou ainda o fim da pobreza no país?

JPS- Na avaliação dos movimentos sociais da Via Campesina, as iniciativas previstas no PAC não podem ser consideradas como políticas de desenvolvimento, porque não resolvem os principais problemas da sociedade brasileira, como trabalho, saúde, educação e reforma agrária. O PAC é formado por obras de infra-estrutura, como a construção de estradas e barragens, para aumentar o lucro do setor exportador, especialmente o agronegócio. A contradição é que o avanço do agronegócio, que é a parceria dos latifundiários brasileiros com empresas transnacionais e capital financeiro, vai aumentar a concentração de terra e a pobreza no campo.

Quais as números da reforma agrária no Brasil, para o MST?

JPS- Não gostamos de falar em números, que mais confundem do que esclarecem o que acontece no campo. Atualmente, há uma disputa entre dois modelos para a agricultura: a reforma agrária e a média e pequena agricultura, que produzem alimentos para o mercado interno, e o agronegócio concrentrador e devastador, que produz soja, cana, eucalipto e gado para exportação. A reforma agrária está parada e não existe uma política agrária nem fundiária para assentar as famílias acampadas e eliminar o latifúndio. Por outro lado, passamos por um processo violento de concentração de terras, com o avanço do agronegócio e das empresas transnacionais, que dominam a agricultura em todo o mundo. Com a crise econômica, os especuladores estrangeiros vão deixar de investir nas bolsas e vão comprar terras no Brasil. Atualmente, 30 empresas dominam a agricultura, controlando a produção, processamento, industrialização, distribuição e comércio. Os preços dos alimentos aumentaram em todo mundo por causa da fraqueza e instabilidade desse modelo.

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