É sabido que a Terra é o que é e como é, porque os bilhões de anos de sua formação levaram , enfim, a um equilíbrio quase perfeito – tudo na medida exata para funcionar a contento. Se a temperatura fosse um pouco mais alta ou um pouco menos, não haveria água em seus três...
É sabido que a Terra é o que é e como é, porque os bilhões de anos de sua formação levaram , enfim, a um equilíbrio quase perfeito – tudo na medida exata para funcionar a contento. Se a temperatura fosse um pouco mais alta ou um pouco menos, não haveria água em seus três estados fundamentais. Se sua rotação fosse mais rápida ou mais lenta, se sua massa fosse maior ou menor, se sua atmosfera fosse mais ou menos espessa, tudo, tudo seria diferente – até nós e toda forma de vida também – quiçá nem existiríamos inclusive.
Então, os bilhões de anos foram generosos para estabelecer o tal equilíbrio redentor que tornou o nosso mundo, além de mim e você viáveis.
Todavia, essa evolução não ocorreu somente no nosso planeta, ela também se deu em cada um de nós – homens, peixes, plantas e até na mais simples forma de vida. Fomos sendo moldados a ferro e fogo até chegarmos a ser quem somos e o que somos.
A evolução também fez com que percebêssemos o mundo que nos cerca através dos nossos cinco sentidos e cada um deles encontram-se na medida certa – o mesmo tal equilíbrio, para mantermos nossa integridade física e mental.
Recentemente li uma matéria sobre os banheiros, mais especificamente os vasos sanitários, que quando não dávamos a descarga com a tampa fechada, era lançado um aerosol de alguns metros, pulverizando todo o banheiro com água, fezes e urina, salpicando escovas de dentes, perfumes, cremes, espelhos, sabonetes e principalmente nós mesmos -ou seja, uma belezura de se saber. Porém, nosso sentido mais precioso, a visão, foi sábia em ser limitada para não perceber essa contaminação cruzada – num suspiro aliviado eu vos digo: ainda bem!!!
Já imaginou se nossa visão fosse tão poderosa ao ponto de enxergarmos esse espetáculo de podridão, com partículas de coliformes fecais suspensas no ar, espalhando-se por todos os recantos do banheiro e em nossos cabelos, inclusive? – é certo que nunca mais beijaríamos a cabeça dos nosso filhos da mesma maneira. Nossa visão limitada, o chamado “olho nu”, nos impede de ver o micro e o macro, o super rápido e o ultra lento – poupando-nos de percebermos um mundo meio secreto, nos possibilitando seguirmos nos alimentando e fazendo sexo – ambos vitais para a perpetuação da nossa espécie – não por acaso estão entre os maiores prazeres da nossa vida.
Se enxergamos na medida certa, o mesmo acontece com os demais sentidos. Uma audição poderosa sabotaria nosso sono ou momentos de sossego, com ruídos assustadores a fustigar o nosso valoroso silêncio, bem como as relações humanas jamais seriam as mesmas, se capazes fôssemos de escutar conversas através das paredes. O mesmo aconteceria se sentíssemos os odores alheios mais ínfimos e discretos. E finalmente nossa experiência como humanos seria severamente alterada com um “superpaladar” ou um tato exagerado -podemos concluir que percebemos as nuances dos sabores, a textura e temperatura das coisas em sua dose exata.
Encontramo-nos, pois, na medida certa de tudo: forma e função, ou seja, a natureza em milhões de anos fez a sua parte. Porém, falta fazermos a nossa com as ferramentas que nos foram dadas. A sensação é que temos muito a caminhar até chegarmos a um desejável equilíbrio pessoal e social. Vivemos oscilando sempre entre o “um pouco mais e um pouco menos”, um “tantinho para cima e um tantinho para baixo” e assim caminhamos trôpegos em direção a um ponto onde podemos nos considerar mais “evoluídos”, ou elevados, como queiram.
Enquanto esse dia não vem, agradecemos nossas providenciais limitações, que nos impedem de enxergar os nossos pequenos e grandes defeitos e principalmente o aerosol do sanitário suspenso no ar.