Usuário Legado
Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.
As discussões sobre a instalação de duas usinas nucleares em Alagoas, com previsão para 2012, dividem ambientalistas e o Governo do Estado e ressuscitaram os fantasmas do maior acidente radioativo da história do Brasil: hoje, há exatos 22 anos, em 13 de setembro de 1987, uma cápsula de césio 137 foi manipulada acidentalmente e deixou queimaduras em centenas de pessoas, em Goiânia. 60 pessoas morreram depois do acidente.
O projeto é da Eletronuclear, que pretende instalar, em três anos, quatro usinas no País, duas delas no Nordeste. Serão a Nordeste I e II. Na disputa estão Alagoas, Bahia, Sergipe e Pernambuco. No final, um eleitor decidirá para onde vai a usina: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Há exigências para se instalar as usinas: primeiro, terão que funcionar à beira mar (por causa da água para resfriar os equipamentos). Não deve ter pessoas ao redor e nada de manifestações contrárias ao projeto. Se houver, elas serão transferidas para outro estado.
Há dois anos, Alagoas está de “olho” nos milhões em ICMS, nos R$ 7 bilhões- os custos de instalação de uma usina nuclear- e nos salários pagos aos trabalhadores: entre R$ 10 mil a R$ 12 mil, uma verba de marajá, já que 48% da população alagoana recebe até um salário mínimo, apenas 22% são economicamente ativas e o PIB per capita é de R$ 3.877,00, menor que a média do Nordeste (R$ 4.927,00), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas, dos quatro estados nordestinos, Alagoas é o único que é governado por um não-aliado do presidente: o PSDB. Bahia e Sergipe estão sob comando do PT; o PSB, estado-natal do presidente, é governado pelo PSB. “Os três estados são governados por partidos aliados de Lula, mas o governador de Alagoas Teotonio Vilela Filho é afilhado do presidente Lula. Lula tem sido um pai para Alagoas”, diz o secretário de Desenvolvimento, Energia e Logística, Luiz Otávio Gomes. Há duas semanas, o governador viajou ao Rio para visitar Angra I e II; workshops, seminários, e uma frase de efeito para convencer o único eleitor: “Eu instalaria minha casa de praia ao lado de uma usina nuclear. O risco é mínimo. Há riscos em se atravessar uma rua ou levar uma topada no pé. Viver é risco. Uma usina nuclear oferece o mínimo de risco”, afirma Gomes.
“As usinas vão dar a Alagoas uma outra cara na economia e geração de emprego e renda. No que depender de mim, a usina vem para Alagoas”, diz o governador. A Constituição de Alagoas proíbe a instalação de usinas nucleares, mas o Governo prepara um argumento infalível: estados não podem legislar sobre programas de energia, logo, a lei alagoana que proíbe a instalação é inconstitucional.
O Ministério Público Estadual estuda o caso da instalação das usinas, mas ainda não tem um entendimento formado. “Uma usina nuclear é interessante para a matriz energética de Alagoas? Por outro lado, vemos a energia nuclear sendo usada na medicina e para fabricação de submarinos nucleares. Não sei se seria interessante termos uma usina nuclear em um estado turístico como Alagoas”, diz o promotor ambiental Alberto Fonseca.
Já entidades ambientalistas levantam a “coincidência”, do acidente nuclear em Goiânia, e as discussões mundiais sobre a “economia verde”, investimentos em energia como a solar, eólica ou da força das marés.
“No Brasil, obra pública começa e não termina. Não dá para se instalar uma usina e depois parar ou se arrepender. Tem que continuar”, diz o professor de Gestão Ambiental do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Vicente Rodolfo Santos César. “A geração de empregos, no Nordeste, com uma usina, é muito baixa. Toda a mão de obra em Alagoas, para uma usina, vem de outros estados. Não favorece em nada Alagoas”, completou
Para ele, antes de se pensar em energia nuclear, o Nordeste deveria investir na revitalização do rio São Francisco e aproveitar o potencial energético de algumas regiões, como o Ceará, com energia eólica. “Vamos colocar uma bomba para as futuras gerações”, contou.
De acordo com o especialista em Direito Ambiental, Maurício Pereira, uma usina nuclear causaria problemas quanto ao descarte do lixo atômico. Dos 102 municípios de Alagoas, nenhum tem aterro sanitário nem para tratar do lixo doméstico, um problema comum no Nordeste: nas capitais se formam os lixões, áreas de depósito de resíduos a céu aberto. “Se não existe uma estratégia para o lixo que geramos todos os dias em nossas casas, como trataremos o lixo atômico?”, questiona.
“Ninguém moraria perto de uma usina nuclear. Só em falar existe medo. Temos em Alagoas uma luta com os empreendimentos imobiliários que querem destruir nossa fauna e flora, nossas lagoas, nossos rios. Alagoas é um estado privilegiado: até o nome “Alagoas” é em homenagem às nossas águas, às riquezas naturais. Por que trazer uma usina nuclear para cá?”, pergunta Aliete Bezerra, da ONG Salsa de Praia, que ajuda na preservação de tartarugas marinhas.