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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Fazendo história

Ao prestar um pouco de atenção nas letras das músicas mais tocadas nas rádios e festas do Brasil, fiquei estupefato com seu conteúdo e cheguei a algumas conclusões.
Há alguns anos, as músicas falavam sobre como as pessoas buscavam esquecer seus amores após o fim dos relacionamentos. Hoje, as canções ensinam que é preciso “superar” e não apenas esquecer alguém.
São várias as músicas que usam esse termo, que, ao meu ver, traz uma proposta mais terapêutica e psiquiátrica para “tratar” o fim de um namoro — ou seja, algo completamente alinhado com a geração para a qual essas músicas são direcionadas, utilizando, para isso, elementos bastante usuais, como álcool, baladas e corpos alheios.
Na maioria dessas músicas, homens e mulheres não fazem questão de conquistar um parceiro para viver uma relação de amor e paixão. Eles desejam, sobretudo, marcar território e se tornarem inesquecíveis, mesmo que seus “ex” estejam em outros relacionamentos. Cantam em verso e prosa que seus ex-parceiros saem, bebem e beijam nas baladas, mas no final sucumbem aos encantos e às lembranças, e acabam acordando na cama desses seres irresistíveis.
Ouvi também uma música em que a cantora diz ser “a mulher mais foda do Brasil” e que “não fez amor, fez história”. Em várias outras, mulheres se ufanam dizendo que a sua “sentada” é simplesmente inesquecível — se é que vocês me entendem.
Esses são alguns exemplos que retratam a geração mais narcisista que já existiu neste planeta. Querem marcar, eternizar-se e mostrar o quão fodonas são, com o vil intuito de satisfazer apenas os seus pequenos egos.
Por último, ouvi uma música em que a cantora diz ser “a mulher mais bipolar do mundo”, expondo em melodias patologias psiquiátricas com uma pitada de orgulho — como vemos acontecer com certa frequência na mídia e também ao nosso redor.
Resumindo, se fôssemos fazer um retrato dos relacionamentos dos jovens dessa geração, baseando-se apenas nas músicas de hoje em dia, acreditaríamos que a situação está realmente difícil para quem quer apenas “a sorte de um amor tranquilo”, como dizia pragmaticamente o saudoso Cazuza. Felizmente, não é bem assim, e sempre haverá quem queira viver amores calmos, simplesmente fazendo amor, e não fazendo história.

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