Filhos, ah os filhos … Lembro-me que quando escutei essa história relatada por uma amiga, meus filhos eram pequenos e eu ainda nutria certas ilusões: que no alvorecer da adolescência, somente os dos outros seriam desobedientes , se afastariam, não iriam querer mais carinho dos pais e se isolariam entre seus pares formando tribos remotas...
Filhos, ah os filhos …
Lembro-me que quando escutei essa história relatada por uma amiga, meus filhos eram pequenos e eu ainda nutria certas ilusões: que no alvorecer da adolescência, somente os dos outros seriam desobedientes , se afastariam, não iriam querer mais carinho dos pais e se isolariam entre seus pares formando tribos remotas que evitariam a todo custo o contato com o homem branco -nesse caso, os pais. Já os meus continuariam a ser meigos, receptivos e obedientes.
Pois bem, essa amiga me contou à época de forma jocosa e furiosa, que não aguentava mais a rebeldia e desobediência da filha. Continuou o desabafo dizendo que a cada nota vermelha, malcriação, mentira, cinismo, deboche e chiliques juvenis , ela entrava no quarto fumaçando e tomava-lhe uma coisa como castigo. Primeiro foi, obviamente, o celular. Depois tirou a extensão do telefone do quarto. Em seguida abriu a porta e carregou o aparelho de som. Um outro dia foi a vez do videogame. Logo depois a televisão. A rebeldia e desobediência da menina não tinha fim, e dessa vez foi o Mickey e a Minnie de pelúcia. Até que, numa certa noite, após mais uma transgressão juvenil, minha amiga entrou no quarto da menina disposta a dar-lhe mais um castigo. Abriu a porta com força, olhou a filha deitada na cama mascando chiclete com a cara mais sonsa do mundo e então olhou ao redor. Olhou, olhou, procurando o que tirar dessa vez como castigo. A mãe então pegou uma cadeira, posicionou-a no meio do quarto, subiu e desrosqueou a lâmpada e sentenciou vitoriosa:
-Pronto, você vai ficar agora no escuro para aprender a me obedecer!
Bom, os anos passaram e meus filhos cresceram. A filha dela também e hoje é uma moça casada e responsável. Agora é minha vez de aplicar castigos pelas desobediências dos meus tomando-lhes seus pequenos “luxos”. Porém no meu caso, levo uma pequena vantagem. Na época da minha amiga não existiam os smartphones e os celulares serviam apenas para fazer ligações e jogar o jogo da cobrinha. Hoje de uma só tacada tiro o telefone, a TV, o videogame, o som, a câmera fotográfica e até a luz do quarto de uma vez num aparelho só -bem mais cômodo, portanto. Bem feito, quem mandou tirarem a minha ilusão de que eles seriam diferentes?
Filhos, ah os filhos…