Num vídeo conhecido nas redes sociais o escritor Ariano Suassuna queixa-se de uma matéria cujo autor chama o guitarrista da banda Calypso, Chimbinha, de genial. Ele prossegue dizendo que é um homem que trabalha com as palavras e que estas estão sendo usadas sem o devido cuidado, e quando se gasta um adjetivo superlativo como...
Num vídeo conhecido nas redes sociais o escritor Ariano Suassuna queixa-se de uma matéria cujo autor chama o guitarrista da banda Calypso, Chimbinha, de genial. Ele prossegue dizendo que é um homem que trabalha com as palavras e que estas estão sendo usadas sem o devido cuidado, e quando se gasta um adjetivo superlativo como “genial” com o Chimbinha, o que restaria para classificar um Beethoven, por exemplo?
A verdade é que banalizamos demais os adjetivos mais primorosos os quais deveríamos guardá-los apenas para os casos mais adequados. Vemos nas redes sociais amigas chamarem-se de “linda” mesmo quando nem bonitinha são. Virou sinal de simpatia e carinho -ah, e de falsidade também- comentar fotos das moças sorridentes carentes de elogiosos comentários. Sugiro que guardássemos o “linda” para aqueles casos onde a imagem realmente correspondesse ao carinhoso adjetivo. Então usaríamos outros mais realistas e adequados como: bela, bonita, charmosa, elegante e ajeitada -por que não?
Existem pessoas que buscam adjetivos pitorescos para definir sabores subjetivos e sutis, como os apreciadores de vinho. Enólogos e sommeliers são realmente criativos pela variedade associativa das palavras durante a degustação de uma taça. Ouvimos algo como: aveludado, austero, complexo, elegante, terroso, amanteigado, estruturado, frutado, herbáceo e por aí vai.
Recentemente nosso dicionário adquiriu centenas de palavras novas graças à tecnologia -incorporamos palavras oriundas do inglês, os famosos anglicismos, e hoje já fazem parte do nosso vocabulário usual. Creio que talvez estejamos precisando criar mais adjetivos, sobretudo os elogiosos que estão praticamente banalizados, deixando-nos sem munição de vocabulário. Até os nosso regionais já não são suficientes para definir pessoas, coisas e situações -tudo é “massa”, “arretado”, “coisado” e do “cabrunco”.
Temos que entender que o mundo evoluiu e tudo ficou imenso -precisamos então de adjetivos maiores que “genial”, “maravilhoso”, “espetacular”e “encantador”, bem como de outros maiores que “ladrão”, “corrupto” e “desonesto” para definir o nosso universo político -esses já não são suficientes para explicarmos e definirmos o que assistimos diariamente na TV.
Na realidade, os nossos políticos estão cada vez mais, mais, mais…terrosos, amanteigados e herbáceos.