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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Ideias matam

Muito mais que susto, bala ou vício. Pior que bala de carabina, que veneno estricnina, que peixeira de baiano.
Mais letal que fome, doenças e desastres naturais.
Ainda mais mortal que câncer de pâncreas.
As ideias são as maiores assassinas do mundo moderno.
Ideias matam, ideias separam, ideias nos fazem odiar – e o ódio mata.
Elas surgem lá dentro do nosso juízo pensante e crescem como uma árvore para dentro e para fora. Expandem-se como um câncer e nos preenchem de forma fluida e dominante.
Inicialmente é um quase nada. Ideias são plantadas feito sementes e tornam-se vigorosas como sequoias.
Ideias frutificam paixões e amores, mas também ódios e dores.
Ideias nos levam à cegueira, mudez, surdez e paralisia.
Ideias bagunçam nosso bom senso, confundem nosso julgamento, anuvia nossa razão e reclassifica nossa escala de valores.
Ideias são sectárias: elas nos separam, nos afastam, nos “desirmanam”. O outro torna-se o inimigo. A ideia do outro é a inimiga – e ela está nele.
A ideia leva a uma verdade, mas não necessariamente A verdade – e por essa verdade se luta, se morre e se mata.
Ideias levam às guerras e semeiam ódios.
Ideias escolhem objetos, ídolos, ideologias, sistemas econômicos, religiões, times de futebol, povos, partidos políticos, regiões, estilos de vida, manifestações artísticas e valores.
Ideias nos leva a inveja, raiva, medo e rancor. Mas, também nos leva à compaixão, serenidade, empatia e amor.
Ironicamente elas existem apenas em nossas cabeças – ao menos inicialmente- e mal existem de verdade do lado de fora. A não ser que você permita. A não ser que tome conta de você – então ela não será mais sua e sim você dela.
Essas eleições são as mais odientas que já vi. Ideias brigam fora de nós mesmos, alheias às nossas vontades – nós as deixamos soltas e exaltamos os ânimos.
Feito galos de briga, pomos nossas ideias para se digladiarem com as ideias do outro nas rinhas reais e virtuais em nosso dia a dia.
O ser humano prova em ano eleitoral que sua alma é bélica, seu instinto é conquistador e sua essência é intolerante. Nossas ideias nos fazem odiar. Vejo e sinto ódios dos dois lados da rinha – ambos defendendo com unhas e dentes suas crenças e valores – ambas nascidas do berço das ideias.
Bem mais que susto, bala ou vício, as ideias matam. Cuidado com elas. Sufoque-as quando ainda são apenas sementes.

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