Muito mais que susto, bala ou vício. Pior que bala de carabina, que veneno estricnina, que peixeira de baiano. Mais letal que fome, doenças e desastres naturais. Ainda mais mortal que câncer de pâncreas. As ideias são as maiores assassinas do mundo moderno. Ideias matam, ideias separam, ideias nos fazem odiar – e o ódio...
Muito mais que susto, bala ou vício. Pior que bala de carabina, que veneno estricnina, que peixeira de baiano.
Mais letal que fome, doenças e desastres naturais.
Ainda mais mortal que câncer de pâncreas.
As ideias são as maiores assassinas do mundo moderno.
Ideias matam, ideias separam, ideias nos fazem odiar – e o ódio mata.
Elas surgem lá dentro do nosso juízo pensante e crescem como uma árvore para dentro e para fora. Expandem-se como um câncer e nos preenchem de forma fluida e dominante.
Inicialmente é um quase nada. Ideias são plantadas feito sementes e tornam-se vigorosas como sequoias.
Ideias frutificam paixões e amores, mas também ódios e dores.
Ideias nos levam à cegueira, mudez, surdez e paralisia.
Ideias bagunçam nosso bom senso, confundem nosso julgamento, anuvia nossa razão e reclassifica nossa escala de valores.
Ideias são sectárias: elas nos separam, nos afastam, nos “desirmanam”. O outro torna-se o inimigo. A ideia do outro é a inimiga – e ela está nele.
A ideia leva a uma verdade, mas não necessariamente A verdade – e por essa verdade se luta, se morre e se mata.
Ideias levam às guerras e semeiam ódios.
Ideias escolhem objetos, ídolos, ideologias, sistemas econômicos, religiões, times de futebol, povos, partidos políticos, regiões, estilos de vida, manifestações artísticas e valores.
Ideias nos leva a inveja, raiva, medo e rancor. Mas, também nos leva à compaixão, serenidade, empatia e amor.
Ironicamente elas existem apenas em nossas cabeças – ao menos inicialmente- e mal existem de verdade do lado de fora. A não ser que você permita. A não ser que tome conta de você – então ela não será mais sua e sim você dela.
Essas eleições são as mais odientas que já vi. Ideias brigam fora de nós mesmos, alheias às nossas vontades – nós as deixamos soltas e exaltamos os ânimos.
Feito galos de briga, pomos nossas ideias para se digladiarem com as ideias do outro nas rinhas reais e virtuais em nosso dia a dia.
O ser humano prova em ano eleitoral que sua alma é bélica, seu instinto é conquistador e sua essência é intolerante. Nossas ideias nos fazem odiar. Vejo e sinto ódios dos dois lados da rinha – ambos defendendo com unhas e dentes suas crenças e valores – ambas nascidas do berço das ideias.
Bem mais que susto, bala ou vício, as ideias matam. Cuidado com elas. Sufoque-as quando ainda são apenas sementes.