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Flávia Duarte/Alagoas 24 HorasFlávia Duarte/Alagoas 24 Horas

Este repórter escreveu, para a edição de domingo (11) do jornal O Globo, uma matéria sobre o berço do mestre Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, a cidade de Passo de Camaragibe, sem professores de português para ensinar as mudanças nas regras ortográficas, valendo a partir de 1º de janeiro.
Mas, na edição deste sábado (10) do jornal, na página dois, na coluna "Por Dentro do O Globo", a redação sempre pede um pequeno texto a um repórter sobre a construção dos bastidores de uma notícia, considerada pelos editores e pelos repórteres do próprio jornal como destaque da edição do dia.
O contexto da coluna do "Por Dentro" é uma "vitrine" d’ Globo. Nela, aparecem com mais frequência os repórteres das maiores praças, Rio, São Paulo, Brasília. Lá, estão os melhores profissionais, as mais estruturadas redações do Brasil e, consequentemente, as mais premiadas.
Desta vez, o protocolo foi quebrado. Editores e repórteres do Globo escolheram o Nordeste, especificamente Alagoas, como tema do "Por Dentro". Coube a este repórter fazer uma espécie de "diário de campo" sobre a passagem lá pelas bandas de Passo.
E na página 2 de um dos maiores jornais do Brasil, publicado com a foto ao lado da jornalista Flávia Duarte, aqui do 24 horas, indo a Passo carregando uma câmera digital "quebra-galho" na mão, um carro "emprestado" para chegar até a pequena cidade e a pressa para evitar o pôr do sol e o fim da luz para as fotos, assim ficou o diário de campo da cidade do homem que dá nome ao dicionário mais famoso do Brasil.

"Uma olhada nos livros de História e uma pesquisa na internet ajudaram a decifrar o tesouro de Passo de Camaragibe, a cidade escondida entre montanhas no interior de Alagoas. O tesouro era Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira. Visitei duas vezes o “berço” do mestre. As melhores praias estão naquela região, é passagem obrigatória para outros municípios e suas águas mornas e cristalinas.
Mesmo nos dicionários com o nome de mestre Aurélio, a cidade de Passo de Camaragibe não passa despercebida. Está ali, catalogada, pariu o homem das letras no Brasil. Nas raras entrevistas espalhadas pela internet, Aurélio citou vez ou outra sua terra natal. Parecia que sua paixão era mesmo Alagoas ou Maceió.
Aurélio parece ter “esquecido” Passo, talvez um lapso de memória. Coisas de sábio. E Passo não lembra mais do seu “mestre”. Coisas do tempo.
Como transformar o berço do mestre em matéria? Era simplesmente o lugar que ele nasceu e um ponto final?
Sim, era isso. O resto vinha do bate-papo com as pessoas nas escadarias da escola, nas ruas da cidade, no “boa tarde” na praça padre Cícero, em frente à Prefeitura, nos lençóis de cama lavados com aprumo e secando como bandeiras coloridas na cabeceira da ponte do rio Camaragibe.
Em Passo, o tempo é assim: as pessoas andam de bicicleta nas ruas sem carros, sentam nas calçadas para espantar o calor, conversam os mesmos assuntos. Na televisão, apenas dois canais. Um sossego.
Seu isolamento quase monástico impressiona: ela está fora dos roteiros turísticos, falta estrutura e se os programas federais não existissem, não faltaria muito para a cidade ser varrida do mapa. Ser universitário por lá é difícil. De dois anos para cá é que o sonho de “ser doutor” se concretizou porque a Prefeitura colocou um ônibus para viajar a Maceió em direção a Ufal. O progresso tenta recuperar sua memória perdida.
Chegamos por lá às 15 horas. Saímos às 16h30. Em uma cidade pequena, o repórter logo se transforma em notícia. A câmera fotográfica na mão é perseguida por olhares alegres, desconfiados ou pelos "espiões" da política local.
Mas, a natureza é generosa e o ambiente lembra os poemas parnasianos: campos verdes, animais soltos, as lavadeiras e as carroças. É o carpe diem, de Horácio. Só que o "realismo" não escapa das lentes da máquina. Havia uma certeza: até os poetas esqueceram-se dali. "

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