Luis Vilar
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Fazia tempo que não escrevia no blog. Motivo: queria um assunto positivo, que renovasse as esperanças, já que estamos falando em fim de ano e promessa de dias melhores. Juro que procurei, mas parece que as coisas boas se perderam diante do tempestivo 2007: o furacão atípico que passou por Alagoas, porém, em meio às desgraças, me parece que o ano deixou lições subcutâneas, tanto para o poder público, quanto para nós cidadãos comuns. A PF deixou uma sensação – que veio tardia é verdade – de que Alagoas precisa de uma faxina ética nos mais diversos setores. Aqui se confunde o público com o privado. Polícia com politicagem. É a terra onde os acordos espúrios são traçados e assinados ao meio-dia e ao pôr-do-sol. Onde a corrupção passa recibo e os políticos nem disfarçam nos grampos telefônicos. Alagoas é terra do surreal.
Alice por aqui se sentiria em casa. A Terra dos Marechais é o “País das Maravilhas”. Mas, algo me surpreendeu no dia de hoje que me fez retornar ao blog. Li o comentário do companheiro Waldemir Rodrigues e a matéria com o superintendente de Transporte e Trânsito, Ivã Vilela. A declaração dele não foi infeliz. Ela foi um crime. A exposição de um pensamento que domina as elites empresariais deste país.
Não é de hoje que o transporte público é tratado com descaso. Aliás, o transporte público não, os passageiros. Pois, os empresários deste setor são tratados da melhor forma possível, seja pelo Executivo municipal (desde gestões passadas; a culpa não é só de Cícero Almeida) e pela Câmara Municipal de Maceió que tem aprovado aumentos de tarifas “fingindo” que lê a planilha de custos apresentada. Planilha esta que é tão secreta que a imprensa e a sociedade nunca tiveram acesso. Fica tudo num jogo de “disse-me-disse”, onde se evita sempre a licitação para o oferecimento dos serviços de transportes públicos e – estranhamente – os empresários do setor choram, choram e choram, sem largar o osso.
Frota velha, passageiros que correm riscos e passagens que ninguém sabe ao certo a margem de lucro. É preciso maior transparência na discussão desta tarifa e que acima de tudo, os vereadores de Maceió entrem nesta discussão. Mas, vamos à declaração de Ivã Vilela: “Quem não pode pagar, também não pode exigir”. A comparação do Waldemir Rodrigues é genial. É o mesmo que não poder exigir qualidade do SUS porque não se tem plano de saúde. É o mesmo que não poder exigir qualidade da escola pública porque não se paga a mensalidade escolar. Tenho um amigo que é professor municipal e da rede particular. Ele assume claramente que não dá a mesma aula nos estabelecimentos. Ele alega que trabalha de acordo com o que lhe pagam. Tudo hoje em dia tem valor mercadológico, inclusive as pessoas. Pensar assim é um crime. Talvez, Ivã Vilela de fato pense assim.
Pois bem, Ivã Vilela me lembrou um antigo personagem do Chico Anysio, o tal do Justo Veríssimo, quando balançava seu bigode nitzscheneano e detonava: Eu quero é que o pobre se exploda.
Hoje em dia tem muita gente querendo explodir pobre. No setor público então, com o peso do lobby, o que mais tem é mão querendo apertar o botão vermelho desta bomba. A declaração foi terrível e espero que tenha sido intempestiva e que não reflita o real pensamento de Vilela, nem o da administração de Cícero Almeida (PP), que por sinal – a meu ver – ainda continua devendo quando o assunto é preocupação com o social.
Por falar em social, é novamente quem anda de ônibus que mais precisa de políticas neste sentido. Senhor Ivã Vilela, com tantas vias pavimentadas, novas e bonitas, com um trabalho tão exemplar que se vem fazendo em infra-estrutura é natural que o povo queira algo mais que latas de sardinhas para andar dentro. É natural que o povo queira também melhoria de vida e qualidade. Afinal, tem muita gente querendo que no final do mês sobre um dinheirinho. Pelo menos para comprar roupa nova e ir para mais uma inauguração de calçamento promovida pela Prefeitura Municipal de Maceió.
Ah, antes que eu me esqueça… Calçamento que o prefeito Cícero Almeida – deve-se reconhecer – vem fazendo indistintamente em todos os bairros e não apenas naquele onde os moradores podem pagar sapatos novos para pisar em asfaltos tão lindos e brilhantes!