Sempre gostei de ler biografias, inclusive estão entre as minhas leituras preferidas. Além da curiosidade natural em saber como aquela pessoa tornou-se quem ela é ou foi, tem também o aprendizado didático com os erros e acertos alheios – por isso interesso-me apenas pelas de pessoas que julgo interessantes e/ou admiráveis. Acabei de terminar...
Sempre gostei de ler biografias, inclusive estão entre as minhas leituras preferidas. Além da curiosidade natural em saber como aquela pessoa tornou-se quem ela é ou foi, tem também o aprendizado didático com os erros e acertos alheios – por isso interesso-me apenas pelas de pessoas que julgo interessantes e/ou admiráveis.
Acabei de terminar a leitura da ótima autobiografia da ótima Rita Lee – praticamente uma sobrevivente de uma época interessantíssima da história do Brasil e do mundo – os anos 60 e 70 – que fecundou artistas que mudaram a cara da sociedade em vários aspectos, transformando e criando modas, conceitos, ideias e harmonias, com suas verdades, mentiras, acertos, equívocos, genialidades, loucuras, descobertas, coragens, caretices, pudores e desbundes, alterando para sempre a fachada do século XX – se fosse uma corrida de revezamento, pegou-se o bastão no início deste século e entregou-o adiante num mundo completamente diferente.
Rita Lee com certeza é uma dessas figuras de destaque da classe artística brasileira, com suas músicas simples, elegantes e deliciosas, bem como com sua irreverência nonsense, mesmo sendo mãezona e dona de casa. Então ler sua autobiografia onde ela revela sem pudor algum desde o luxo até o lixo que foi sua vida, nos provoca aquela sensação de intimidade e espanto, diante de tantas histórias da infância até os dias de hoje, onde já passa dos 70 anos mais que bem vividos. Porém, hora nenhuma nos surpreendem suas loucuras, internações e decisões doidivanas, afinal, todo artista que se preze tem que pensar e agir diferente de nós, pobres mortais.
Recomendo bastante a leitura deste livro, mas somente para aqueles que gostam de biografias e também de Rita Lee – destarte não comentarei nenhuma passagem nem farei spoiler algum do livro, porém irei transcrever alguns trechos do seu final, onde ela nos passa pensamentos soltos do que ela acredita e pensa hoje, dando-nos uma pequena amostra de quem ou em que Rita Lee tornou-se.
“Não sou saudosista, mas devo admitir que no “meu tempo” tudo era bem mais chique. Acho interessante estar no mundinho podrera de hoje e por uma questão de fora-modismo elegante não me apegar a ele, mas às vezes é como acordar de uma overdose e ver que ainda está vivo. Esses dias de mulheres-liquidificadores e homens-geladeiras me fazem crer que a raça humana não deu lá muito certo. Nessas me dei muito bem por ter nascido na época de ouro do pós-guerra. Quando dizem que “a idade está na cabeça” meu fígado e minha coluna dão uma risada sarcástica. Mulheres têm a idade que merecem, homens serão sempre crianças.
É uma série de imagens que mudam ao se repetirem. É um tal de política destruindo a liberdade, de medicina destruindo a saúde, de jornalismo destruindo a informação, de advogados e policiais destruindo a justiça, de universidades destruindo o conhecimento, de religiões destruindo a espiritualidade. Confie em Deus mas tranque o carro.
Minha depressão não é sinal de fraqueza, eu é que fui forte por muito tempo, mas cuidado com a ira de alguém calmo (…) Para conquistar o seu amor peço perdão mesmo sabendo que não estou errada. O pior inimigo da criatividade é o bom-senso. Mudar, mudar, mudar nem que seja para pior. Dói mas sorrir na frente dos outros que chorar sozinha. Não leve a vida tão a sério porque ninguém sai vivo dela. Debochar de mim mesma é uma estratégia que sempre dá resultado (…) Não é tarde para ser o que eu deveria ter sido. Eis-me aqui, uma pós-famosa anônima observando os macro e micro-universos dentro e fora de mim (…) A sorte de quem ter sido quem sou e de estar onde estou não é nada se comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz”.