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Luis Vilar

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Não ter microfone, ainda assim é ter voz!

O velho Raul Seixas já dizia em sua canção Cachorro Urubu: “Todo jornal que eu leio/
Me diz que a gente já era”. Porém, estes são de fato os prognósticos para o futuro, se começarmos a ler as entrelinhas das notícias de jornais e – ainda assim – permanecermos sentados com a boca escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar.

O manifesto que reuniu milhares de pessoas – no dia de ontem – em frente à Associação Comercial do Estado de Alagoas está longe de ser a exposição – como afirmou o presidente do Legislativo, Antônio Albuquerque (Democratas) – antecipada de um sentimento de revolta. A data foi histórica e demonstra uma reação tardia diante dos mais recentes acontecimentos.

Fidel Castro disse certa vez que era possível governar o Brasil por telefone. Exemplos práticos de quem faz e fez isto não faltam ao longo de nossos anos. Foram líderes peregrinos, ratos sorrateiros, lobos vorazes. Homens que – sem escrúpulos, mas com a posse de belas metáforas – surrupiaram os cofres públicos, sem dó, nem piedade. E o povo: sentado e esperando um “Brasil do futuro”.

O mesmo se deu em Alagoas ao longo de sua história. Com um adendo. A classe pensante deste Estado, muitas vezes se oculta em uma subserviência intelectual aos poderosos, principalmente setores da imprensa. Dificultando, desta forma, a promoção de um contraponto nas artes, na cultura, nos textos escritos, e em outras manifestações. Contraponto este que possa inflar a subversão e encorajar os corações aflitos a encontrarem vozes.

Porém, a cada dia caminha uma revolução silenciosa que anda compreendendo as entrelinhas de jornais. Há tempos já sabemos que os fatos não televisionados denunciam o que de pior há na formação político-financeira deste Estado. Esta plutocracia açucarada e escatológica, que se prolifera em ternos de grife, em Pajeros e pujanças. A violência, a corrupção, o desastre social é fruto das ações das corjas sanguessugas, que muitas vezes – em clubes fechados de canalhas endinheirados – se utilizam inclusive dos serviços prestados dos pseudo-socialistas. Raposas de terno que estão vendo – com medo e já agindo sem muita racionalidade – o chão sumir.

A manifestação de ontem chegou tardia, mas pode ser um passo inicial para que consigamos dar um basta; e cobrar de fato que a transparência tão clamada saia dos papéis timbrados e dos discursos demagogos e ganhe às ruas. Se todo jornal, ultimamente, tem servido de pano de chão ou de vassoura que arrasta cacos para debaixo do tapete, dizendo que o futuro já era, é porque chegou a hora de fazermos como o velho capitão de Exército de Um Homem Só (livro fabuloso de Moacyr Scliar).

Reunidos na uníssona voz de quem é capaz de escrever sua história, cobrarmos e interagirmos com a imprensa, com a política e com outros setores. Pois, o que não for impresso, o que não for inserido nas estatísticas oficiais, o que não for traduzido pelos homens de terno, deve ser escrito a mãos se possível e exposto em cada porta de prédio público. Que os reflexos de uma das maiores crises políticas já vivenciadas neste Estado sirva para que possamos mostrar aos detentores do chicote, que Alagoas não é uma fazenda privada de porteira fechada. Se não temos microfones nem câmeras, isto não pode ser motivos para não termos voz. Parabéns aos manifestantes, mesmo reconhecendo que – em meio à multidão – alguns “pseudo-revoltados” estavam lá apenas para aparecer na foto!

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