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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Nem doeu…

 

   Certa vez sofri um pequeno acidente que provocou uma severa luxação em meu ombro. Após os socorristas tentarem recolocá-lo no lugar, sem sucesso, devido à imensa dor, levaram-me finalmente para uma clínica a fim de reduzir minha luxação sob anestesia e sedação -o que achei ótimo.
  Puseram-me então para dormir e minha esposa que assistia a tudo, falou depois que eu gemia muito enquanto tentavam colocar meu osso no lugar. Eu tranquilamente disse à ela que não sentira nadinha, e que havia sido super confortável para mim.
Depois ao comentar o ocorrido com um amigo ortopedista, ele disse que o tal medicamento não evitava a dor, apenas fazia com que eu não lembrasse nada. Como assim ? Aquilo me assustou e me deixou intrigado e triste. Quer dizer que minha mente achara tudo maravilhoso, mas meu corpo, meu pobre corpo,  sentira cada movimento, cada estiramento e torção impostos  nos meus ligamentos, tendões e cápsulas para recolocar finalmente minha articulação no lugar? Quer dizer que ele sofreu absurdamente e espiou todo o sofrimento e sequelas daquele trauma absurdo, enquanto eu -ou  minha consciência- foi poupada de lembrar de tudo que nós passamos? Quer dizer que é isso que a medicina nesse caso tem a nos oferecer: apenas  esquecimento?
Bem, pensei que isso bem que poderia ser a solução para boa parte dos problemas do ser humano –sofra, mas depois esqueça tudo e seja feliz. A amnésia seletiva seria uma benção para os estresses pós- traumáticos, perdas irreparáveis, danos físicos e emocionais e até dores de amor. Será esse o futuro que nos aguarda? Seremos poupados de lembrar os sofrimentos passados, tornando-nos felizes imêmores ? Bem, tomara que sim. Alguns filmes de ficção já oferecem algo parecido,  como “MIB”  e “O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, restando apenas alguns anos de pesquisa para tornar isso realidade.
Entretanto quero pedir desculpas ao meu pobre ombro, que aguentou calado e nem um pouco chegou a confessar-me seu sofrimento. Fingiu-se de forte, enquanto minha mente acreditava que tudo  havia sido uma maravilha.
Quer saber? Ainda bem!

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