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Nesta segunda parte da entrevista, o professor faz uma crítica ao sistema de concessão para rádio e televisão a parlamentares. E lamenta a queda da “paixão” pela leitura, nas novas gerações de jornalistas. Confira:
O MEC tenta por um lado esta reformulação, mas nem o Congresso Nacional nem a mídia tratam do assunto das concessões para rádio e televisão a parlamentares. Não é um trabalho ainda mais difícil: um lado quer melhorar; o outro, nem quer discutir?
JMM – Cabe-nos como educadores formar jornalistas capazes de informar corretamente e como acadêmicos investigar as entranhas do sistema midiático. Creio que as distorções existentes no regime de concessões de emissoras vêm sendo fartamente diagnosticadas pelos pesquisadores do jornalismo. Mas isso não basta para alertar a cidadania sobre essas relações perigosas entre os agentes da política e os concessionários de mídia. Quando uma pesquisa dá conta desse problema, geralmente seus resultados são publicados na imprensa sob a forma de notícia-denúncia. E quem lê jornais neste país já está razoavelmente bem informado sobre a questão. A dificuldade reside no desconhecimento dos fatos cotidianos pela grande maioria da população (que elege os parlamentares) e não sabe discernir eleitoralmente quando escolhe nossos representantes no legislativo. É ínfima a parcela dos cidadãos que lêem jornal ou revista no Brasil.
O que falta ao Jornalismo e aos jornalistas? Uma melhor formação? Mais leitura?
JMM – Creio que sempre é desejável ampliar o referencial cognitivo dos novos jornalistas para que pratiquem um jornalismo competente. E esta será uma das tarefas da comissão que vai atuar no MEC, buscando conhecer quem forma os jornalistas, como forma e que pressupostos fundamentam sua atividade pedagógica. Trata-se de entender a trajetória intelectual dos professores (pós-graduação) e saber se o conhecimento a quem tem acesso na academia (pesquisa) é suficiente para dar consistência ao conteúdo do que eles transmitem aos seus alunos e dos métodos que empregam (ensino). A melhor formação dos jornalistas não se reduz a uma mera substituição da grade curricular vigente. Além de bem formado, o futuro jornalista precisa ter apetência cognitiva, o que passa pela leitura contínua, alargando sua visão de mundo. Lamento dizer que o interesse e a paixão pela leitura decrescem nas novas gerações que ingressam nos cursos de jornalismo. Mas os professores também não resistem a esse absenteísmo, contribuindo para que se estabeleça um círculo vicioso.
O escritor e jornalista Lima Barreto, no início do século XX, reclamava da imprensa brasileira e seus “pecados”, como a subserviência de repórteres ao poder ou ainda a falta de crítica necessária da sociedade brasileira nos jornais. O senhor concorda com isso? Há uma forma “diferente” para se olhar este fenômeno?
JMM – Tenho a impressão que o panorama mudou completamente. Os jornalistas que atuavam no início do século passado eram formados no dia-a-dia das redações e adotavam atitudes sintonizadas com o regime de trabalho hegemônico. A subserviência conotada por Lima Barreto não decorria da ignorância dos jornalistas sobre o sistema de poder dominante, mas da engrenagem que os atrelava economicamente aos cachês recebidos das fontes. Mesmo que subsistam distorções dessa natureza em determinadas partes do território nacional, os jornalistas de hoje possuem consciência das mazelas da imprensa, alertados pelas agências dedicadas á crítica da mídia.