Não me considero um conservador, muito menos um “cara careta”. Tenho cá meus pecados e minhas pequenas transgressões, porém nenhuma delas levaram-me para fora do meu prosaico caminho —felizmente para mim e também para os meus. Quando adolescente, achava que fazia parte de uma geração vanguardista e revolucionária, em total contraste com a dos meus...
Não me considero um conservador, muito menos um “cara careta”. Tenho cá meus pecados e minhas pequenas transgressões, porém nenhuma delas levaram-me para fora do meu prosaico caminho —felizmente para mim e também para os meus.
Quando adolescente, achava que fazia parte de uma geração vanguardista e revolucionária, em total contraste com a dos meus pais, careta e conformada com “pouco”. As músicas, as roupas e as ideias “oitentistas” me faziam crer que faríamos um mundo muito mais interessante que a geração anterior.
—Gente, como o jovem é bobo e presunçoso, não é?
Bem, hoje compreendo muitas coisas do alto da minha pilha de anos e vejo que o mundo atual é sempre uma construção coletiva e, embora muitas vezes não pareça ser, ele caminha sempre numa direção positiva —será?
Acontece que nesse momento encontro-me na posição outrora ocupada por meus pais, onde certamente eu e minha geração somos julgados como “caretas e conformados com pouco”. Nossas ideias e ideais sofrem um certo deboche por parte de uma geração que acredita ser vanguardista e revolucionária, com sua intolerância ao intolerante e sua apologia a condutas e comportamentos outrora associados a pessoas tidas como desajustadas e que sempre buscaram seu lugar no mundo, mas que nesse momento parece terem tomado-o para si.
Confesso que, atualmente, sinto a mesma desesperança e estranhamento que meus pais sentiam à época quando arregalavam os olhos diante das nossas roupas, cabelos, pequenas transgressões e tatuagens idem —sinto isso ao ver as roupas, cabelos e as enormes trangressões e tatuagens idem dessa geração que se auto ufana e que se proclama “progressista”, como se isso fosse algo muito vantajoso por si só —afinal, o resmungar da geração mais velha sempre existiu desde que o mundo é mundo.
Ainda assim, insisto em acreditar que a humanidade, apesar do estranhamento da geração que passará o bastão, caminha sempre numa direção positiva e não distópica , mesmo sabendo que haverá reclamação de quem o recebe que que o tal bastão está muito pesado e molhado de suor.