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O coqueiro

I
Eu poderia observar o balançar dele,
preso na sua raiz fixa de angústias.

Contemplo-o como agora, o vento se lhe sopra nas palhas
a chuva fina lhe lava o íntimo.

O coqueiro brilha assim, como as águas do
batismo do céu
gotejando a existência primitiva
ao mesmo tempo múltipla pela complexidade.

O coqueiro é este ser de clima árido
provado no charco da tempestade devorante
mas, espera, de pé, o legado das estrelas
a fazer-lhe este valor do tempo,
nas mãos dos homens
e do calor das máquinas reclamando tintas…

II
Balança, o coqueiro, diante da chuva soberana
porque a chuva dança, como esvoaçam os bailes da madrugada
em outras plantas.

Como influenciar o girar das luas em chamas,
escondidas pelas nuvens tímidas e
fascinantes?

Porém, ele balança, o coqueiro! Seu som é o do relógio.

O coqueiro não desanda, ele existe, ele
não fala em vão porque simplesmente é assim: a água
que lhe entra desendenta a boca amarga do homem de
pragas.

E o coqueiro vislumbra a água descendo do céu
Imagina parar a determinada hora, em suspensão.
Permanece imutável, espera agora pelo som do quase-nada
O quase-nada dos céus.

Tudo agora é magia: a noite treme, o silêncio silencia, as luzes
dos postes continuam piscando.
A cidade agora é desnuda, a vida é o coqueiro.

Mas, o coqueiro permanece em meditação.
É-lhe o tempo de possibilidades, a colheita é permanecer
na memória dos alucinados.

III
Vai-se agora a noite entrando em abundância!
A chuva cessou. As vozes cortam o silêncio.
Os homens falam. Os gatos reviram o lixo da esquina.

O coqueiro é místico. Medita na solidão da noite espantando as trevas do acaso e
seus convidados duma festa esquisita.

Abrem-se os sentidos. É o mar recuado, sem luas
(A dele e a do céu)
O sopro salga-lhe o tronco. Agora, são as águas do rei penetrando-lhe os pés.

O coqueiro inquieta-se. Exibe-se a coroa brilhante. A chuva penteou-lhe a beleza para a consagração do amanhecer.

O som alterou-se. São gestos guturais.

A harmonia não é a dos mortos,mas a dos reis-filósofos.

O coqueiro virou uma luz em pleno raiar do sol.
As estrelas se espantam, superam
suas doses de homofonias.

O coqueiro transforma-se em rosa,
na essência do mar, do vento, das aves e na
partida do passado desesperado.

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