Observe o equilibrista sobre a corda bamba. Seus pés vão avançando a cada centímetro enquanto ele mantém-se super concentrado deixando seu corpo sentir a força da gravidade que o puxa para baixo – ou para a queda fatal. Após muitos anos de treino, ele é capaz de perceber intuitivamente qual o ponto exato do centro...
Observe o equilibrista sobre a corda bamba. Seus pés vão avançando a cada centímetro enquanto ele mantém-se super concentrado deixando seu corpo sentir a força da gravidade que o puxa para baixo – ou para a queda fatal. Após muitos anos de treino, ele é capaz de perceber intuitivamente qual o ponto exato do centro de equilíbrio do seu corpo sobre aquele fio de aço, para que este não penda nem para um lado nem para o outro. A cada passo ele sente a força implacável que tenta lhe puxar para baixo, que pode ser no seu lado esquerdo ou no direito. Quando seu corpo começa a pender para um lado, ele percebe a tempo e instintivamente move-o para o outro a fim de manter-se a salvo. Um tanto para esquerda exige um tanto para direita para que as forças providencialmente se anulem. Assim ele consegue avançar aos poucos rumo ao seu objetivo: a outra margem.
Pois bem, devemos entender que na natureza, no circo e também na arte da política, também seja necessário acontecer esse tipo de alternância de lados. É um processo quase instintivo do inconsciente coletivo eleitoral que, ao perceber uma gestão de governo há muito tempo pendendo para um lado, acabe por inclinar-se para o outro a fim de manter o equilíbrio e assim avançar em seu objetivo: o desenvolvimento e bem estar da população.
Pensando assim, somos capazes de entender as oportunidades perdidas com alguns exemplos: se a Venezuela tivesse após alguns anos de governos “bolivarianos” de Chaves e Maduro, eleito algum governo liberal onde se privilegiasse o setor privado e a responsabilidade nas contas públicas, possivelmente não estaria nessa crise que a conduziu ao abismo. Se em 2010 tivesse ganho José Serra em vez de Dilma Rousseff com um governo ainda mais à esquerda que o governo Lula, bem possivelmente estaríamos numa situação econômica bem melhor que a atual e talvez esse ano seria a volta de um outro governo de esquerda um pouco mais moderado. Porém, nessas eleições o Brasil provavelmente irá eleger um governo muito à direita – um movimento brusco para não despencarmos no abismo que nos puxa para baixo.
Governos de esquerda priorizam mais a distribuição de renda e aumentam cada vez mais o tamanho do Estado, centralizando e controlando a maioria dos negócios – talvez algo necessário naquele longíquo 2002 quando Lula venceu as eleições pela primeira vez. Já um governo mais liberal associado muitas vezes erroneamente à direita, diminui o Estado mastodôntico, estabelecendo regras para o setor privado, que o permita fazer o que faz de melhor: gerar riquezas.
Então estamos assim: mãos firmes no longo bastão em cima da corda bamba e inclinando vigorosamente o corpo para a direita, para alterar nosso centro de gravidade. Assim, nos manteremos equilibrados e a salvos da queda fatal – não adianta, portanto, vociferar.
Quem caminha capenga para um lado só, acaba sendo tragado pela força gravitacional implacável – sorte que percebemos a tempo.