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Em 1943, o escritor José Lins do Rego escreveu Fogo Morto, procurando mostrar a mudança de um cenário, típico do Império: o fim dos engenhos de açúcar e a chegada da industrialização, através das usinas. Ali, também alterava-se o quadro do patriarcado, com a figura do coronel. Era o fim da era das senzalas. Os ares da revolução industrial – com mazelas mais modernas- coloriam a atmosfera, especialmente a do Nordeste.
Pois, em pleno século XXI são as usinas que enfrentam essa era do fogo morto, no meio da crise mundial. A maioria delas está nas mãos das famílias mais antigas de Alagoas e são forçadas a alterar os negócios, diante do quebra-quebra mundial.
Duas pessoas do setor falaram a este blogueiro sobre a situação das usinas no Estado. Os dois dizem que seis ou oito usinas vão fechar no Estado até o final do ano e são as mais tradicionais. A pedido de um deles, os nomes delas e seus respectivos donos serão omitidos.
Com a crise do açúcar, o demerara, por exemplo, está estocado. É caro demais para vender e sumiu dos supermercados; das usinas, sabe-se que seis estão à venda. Custam entre R$ 200 milhões e R$ 1 bilhão. Ótima oportunidade para os narcotraficantes lavarem dinheiro.
Nas usinas de Alagoas, há atrasos de salários; as dívidas, em média, são de R$ 300 milhões. Algumas estão às portas da falência. Outras, suspenderam os cortes da cana aos finais de semana, por causa do pagamento das horas-extras aos trabalhadores. Quase todas estão em recuperação judicial, portanto, nada de melindrar ou atacar os magistrados alagoanos. Uma delas enfrenta até problemas com a Justiça Federal. Emitiu certidões falsas de um cartório para mostrar patrimônio que não existe. Tudo para burlar a fiscalização.
Claro, os usineiros não estão à beira da mendigagem. Um deles, por exemplo, vendeu uma usina em janeiro do ano passado, em Mato Grosso. Faturou R$ 300 milhões. Tudo antes da crise. Esse usineiro é político, com livre trânsito no gabinete do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB). O nosso herói usineiro que quase burlou a fiscalização federa é dono de concessionárias de carros. Portanto, não corre risco de prisão ou de fome.
Mas, se depender do Governo Federal, os tempos são difíceis: a “ajuda” mesmo virá aos fornecedores de cana de açúcar, os mais descascados pelo novo crack mundial.
Claro, alguns usineiros de Alagoas sobreviveram à era dos coronéis e, nas antigas senzalas, estão os trabalhadores, quase tão esfrangalhados física e psicologicamente como no passado. O sistema perpetua suas misérias, faz-lhes despossesos. A crise é o dia de cada dia, um maná dos céus improvável ou a indefinição eterna da aposta entre Deus e o Diabo. (Como eles queriam ser disputados, como Fausto…).
(Os usineiros também esperam participar desse tabuleiro de apostas, com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rouseff).
Visitar as páginas de Fogo Morto em tempos de crise como esta faz lembrar do passado das usinas. O engenho do “seu” Lula varreu-se diante do progresso. A nova vassoura empurra as usinas sabe-se lá para onde.
Coisas para um bom discurso de Vitorino Carneiro da Cunha.

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