Blog

Luis Vilar

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

O Haiti é aqui!

Ultrapassamos a marca dos 600 homicídios no ano e ainda nem chegamos à metade de 2008. Nesta perspectiva, bateremos mais um recorde. O problema dos homicídios – além do notável número que nos coloca como se estivéssemos em uma guerra – é que parte destes se tornam papéis amarelados em estantes de delegacias, isto quando viram papel. Sobretudo, quando são vítimas da exclusão – ao mesmo tempo em que da violência – e apontados na mídia como envolvidos em pequenos delitos, usuários de drogas, dentre outras modalidades que levam nossos jovens para a cova mais cedo.

Em Alagoas existe a pena de morte. Em Alagoas existem grupos de extermínios oficializados mantidos e inflados pelo aparelho do poder institucional, seja pela sensação de impunidade, seja pela inoperância, ou pela prevaricação. Eis as três principais vertentes que norteiam os poderes alagoanos. O câncer que corrói, deixando que a corda arrebente do lado mais fraco. Dentre os mais de 600 homicídios, 80% – se não for mais – são os casos daqueles dos quais ninguém se importa com eles.

Em meio à turbulência política, a segurança pública não mais tem sido o alvo preferido da imprensa. Aliás, muitos jornais só tratam o tema dentro de uma ótica malversada e política, para desestabilizar um governo, ou para forçar a queda de algum figurão, sabe-se lá por quais motivos escusos. Heróis de aluguel. Enquanto isto, o Haiti continua sendo aqui e não adianta preces, nem orações. Os gatilhos seguem sendo puxados como se estivéssemos em uma guerra lá no Oriente Médico.

Como diria Caetano Veloso: “E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado (…) e esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital”, já saberemos muito bem de que lado estarão os mortos, os que serão vítimas da justiça pelas próprias mãos, de onde vem o caldo grosso que engrossará as estatísticas: serão negros, pobres, vagabundos, menores de rua que incomodam empresários, ladrões de galinha, dentre outros delitos que em nada se comparam aos crimes de seus executores. Como diria ainda padre Antônio Vieira, há os responsáveis pela morte, que criam à lei e ainda mandam matar.

A Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas – por exemplo – durante muito tempo coordenou ações da Polícia Civil, no chamado tráfico de influência e deu sua contribuição para o estágio quase irreversível que vivemos hoje: O caos urbano que não mais está escolhendo vítimas pela cor da pele, nem pela conta bancária. Aqui é o Haiti. Aqui quase ninguém é cidadão.

E lá na sua cobertura de luxo de frente para o mar, enquanto você escuta o silêncio sorridente da bela orla turística de nosso Estado, soam “pipocos” e barulhos de corpos beijando o chão. Mas, eles vão amarelar em papéis nas estantes de delegacia, oficializando a pena de morte em Alagoas, até que chegue o seu dia, nesta guerra ensurdecedora em meio a desvios de verbas, desmandos, corrupção ativa e passiva, compra de voto, suborno de guarda de trânsito, confusões de grupos jovens em boates e postos de gasolina. Tudo, tudo, tudo para engrossar o caldo dos 600 anônimos que ocuparam um pequeno quadrado de uma página de jornal algum dia.

E assim, somos todos assassinados em potencial, saindo de casa se perguntando se é hoje o dia. Aqui não explodem carro-bomba, aqui não há terremoto nem maremoto, aqui é só felicidade, com exceção dos mais de quatro mortos por dia! O Haiti é aqui, seja bem vindo a ter que pensar nisto enquanto guia sua vida, ou enquanto esta vida te guia!

Veja Mais

Deixe um comentário