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Luis Vilar

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O justiceiro salvador!

Que sociedade teremos construído quando oficializarmos os grupos de extermínios, principalmente os envolvendo policiais? Confesso que quando leio mensagens incentivando a violência e o assassinato deliberado daqueles que são tidos como patologias sociais do nosso tempo, fico com medo que seja o primeiro passo dado para oficializar alguns grupos, os concedendo licença para matar. Estes – apesar do “perfil” Justiceiro, ou “capitão Nascimento” cobrado pela população órfão – são tão bandidos quanto os que morrem. Com um adendo, se tornam “procuradores, promotores e juízes” de uma população sem assistência alguma.

No vácuo do poder público, os Direitos Humanos tem perdido consistência, força e a confiança da população. No mesmo vácuo, já não são raros os casos dos matadores de aluguéis dominarem pequenos guetos da periferia, decidindo sobre a vida e a morte. Alguns, com uma magno na mão e executando os bandidos de pequeno porte que atormentam os cidadãos de bem, vão se associando aos bandidos de grande porte e – em uma troca de favores – se tornam detentores de poder. Em época de eleição, os “justiceiros” são excelentes ferramentas para os políticos corruptos.

Como assim?

Bem, a gratidão da periferia se transforma em votos. Assim, ao invés de um corrupto gastar R$ 50 por capitação de sufrágio, ele paga uma quantia só de alguns poucos mil reais a um destes justiceiros e ele garante que toda a comunidade vote em seu “apadrinhado”. É edificada uma relação extremamente perigosa, onde se locupleta matador e político. Daí, como um gesto de gratidão, o tal justiceiro termina sendo um funcionário lotado, porém não revelado, do organograma do poder público. O famoso cargo comissionado.

O próximo passo: o “justiceiro” está a serviço do político e – ao mesmo tempo, até por conta de uma proteção maior – segue sua vida de “limpar o mal da comunidade onde reside”. Mais um corpo aqui, outro ali. Tudo bandido, merece morrer mesmo! Porém, as desavenças do político, nem sempre se constituem apenas de larápios, ladrões de galinhas, usuários de drogas e outros envolvidos com delitos pequenos, que superlotam as penitenciárias.

Como o “justiceiro” recebeu a licença para matar e ainda mama no poder público, ele resolve tais desavenças. E assim, todo mundo sabe, mas ninguém nunca ouviu falar. Com o tempo, há justiceiros que até são apadrinhados e recebem secretarias no interior do Estado, ou até mesmo se candidatam e se tornam mais distintos do que nunca. Assim, a cumplicidade vai se engrenando, na polícia, no Estado, no parlamento, e em outros poderes constituídos.

Enquanto isto, a sociedade dá o aval para nascerem novos “justiceiros”, afinal precisamos deles, quando ninguém mais vier nos salvar. Caso contrário, apelar para quem? Chapolin Colorado. Esta é uma situação comum, seja nas favelas, grotas do Brasil inteiro e até mesmo em Alagoas, por isto é preciso ter calma ao enaltecer os matadores de bandido. Pois quem sai em busca de lutar contra bandido, tem prato cheio nas altas esferas do poder público, e ninguém nunca entrou com uma metralhadora sequer em certos prédios históricos.

O discurso de matar, matar, matar, matar para acabar com a violência é inconsistente, incoerente e fruto do desespero do vácuo deixado pelo poder público. Pasmem, este discurso é muito aguardado e festejado por criminosos de gravata que vivem a defender a paz na televisão. Hoje eles puxam o gatilho e limpam a tua rua, tirando de cena aquele maconheiro. Mas, com esta licença para matar, sabe-se Deus onde eles vão parar.

E não se trata de defender bandido, mas de cobrar as formas corretas de lidar com a criminalidade. Se for para matar, eu prefiro discutir – de forma legal – a pena de morte, por exemplo, e ai que se posicionem e pesem os prós e contras. Se o “discurso do bandido bom é o bandido morto” pega, sabe-se lá quantos – em meio aos assaltantes assassinados – “justiceiros de plantão” estarão guardando o valor de nossas vidas, sempre puxados por um cordão de Pajeros.

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