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Luis Vilar

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O respaldo do crime

A Polícia Federal tem feito sua parte em Alagoas. A limpeza promovida na Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas é um marco histórico. É hipocrisia – tanto da imprensa, quanto de algumas autoridades e sobretudo de alguns cidadãos – espalharem aos quatro ventos que foram pegos de surpresa, ou que nunca imaginaram que – uma vez aberta a caixa de pandora – quase ninguém escaparia da foice afiada da Operação Taturana.

Em Alagoas, como diz o superintendente da Polícia Federal, José Pinto de Luna, as administrações municipais são apoiadas em fraudes, que muitas vezes possuem o respaldo da Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas e do próprio Tribunal de Contas do Estado. Isto, quando não se locupletam com a imprensa a cada festividade de emancipação política, onde alguns “premiados da palavra” sentam ao lado do prefeito fulano de tal para um bom “uísque” e um “bom agrado por fora”.

O crime possui respaldo e tentáculos incríveis em Alagoas. Quando Luna diz que as raízes das irregularidades neste Estado estão cravadas de forma muito mais profunda que no estado do Espírito Santo, por exemplo, é a mais pura verdade. Podemos não saber de tudo, mas temos a exata noção. Principalmente nós: os mortais indignados da classe média, porém incapazes de ir à luta. Uma minoria encastelada orgulhosa de não ter do que reclamar.

O que acontece com a Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas era inclusive esperado por muitos. Foi a crônica de uma morte anunciada que o grupo – liderado por Celso Luiz e Antônio Albuquerque – desprezou, não leu, ou preferiu acreditar na velha conhecida impunidade. A PF colocou esperança no peito de muitos alagoanos trabalhadores que eram obrigados a viver de forma silenciosa, observando a ostentação da riqueza e da luxuria circular pelos bairros nobres.

Alagoas tem um dos mercados de luxo mais promissores do Brasil, o que contrasta com mais da metade da população na linha de miséria. Alagoas é a terra das caminhonetes e da frota de carros mais nova do país, o que novamente é um contraste. A terra dos apartamentos que custam mais de R$ 1 milhão, mas que são vendidos facilmente no mercado imobiliário. Uma Alagoas para poucos, que alguns alagoanos – por motivos inconfessáveis – fingem desconhecer. O silêncio em Alagoas – como diz o Rappa – não é paz, é medo!

O crime organizado aqui sempre encontrou respaldo, ou nos que se locupletam, ou nos covardes, ou simplesmente na ignorância mantida em rédeas curtas. Não é por acaso que alguns políticos de nossa terra são reconhecidos poderosos por seu histórico de violência. Se orgulham disto. Fazem questão de serem deseducados, fogem do povo, mandam dar surras, entre outras coisas. Porém, hoje, não há mais só o respaldo. O crime tem direito ao seu contraditório, que é a sensação de Justiça. A sensação de que a carroça está andando. Por isto, as declarações intempestivas de José Pinto de Luna são essenciais. É preciso que ele fale mais, que ele fale, que ele diga tudo aquilo que anda preso na garganta de cada um que ainda carrega no peito a indignação.

Quando ele chama um deputado de “cara de pau”, pode ter certeza que não é apenas a voz dele que está ali. Quando ele chama prefeitos de ladrões, é hipocrisia dizer que não rimos por dentro, que não concordamos em gênero, número e grau. Se são corretas ou não estas declarações, se cabem ou não a um superintendente da Polícia Federal talvez seja o que menos interessa. Afinal, são tantas atitudes que não cabem a um deputado estadual e mesmo assim eles fazem, repetem, zombam, e ainda saem ilesos. Pelo menos saíam…

Luna deve ir embora de Alagoas no ano de 2009. Porém, não pode deixar como herança apenas suas declarações ora irônicas, ora engraçadas, ora assustadoras. Ele deve deixar a lição, o sentimento de indignação cidadã, a coragem cívica e sobretudo o desejo de cobrança e luta por dias melhores. Caso contrário, não será apenas a Assembléia Legislativa, nem outras entidades, que representarão o respaldo do crime em Alagoas. Seremos nós novamente, com nosso medo e com nossas máscaras.

Depostos os “imperadores” cabe aos libertos não permitir o retorno da tirania. Na democracia, a arma é o voto!

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