Em mais um bom livro de Mário Sérgio Cortella, tem uma passagem interessante em que ele relata sobre um sábio que meditava num morro, quando chega um grupo de dez meninos com um saco com quatorze balas, pedindo-lhe que as distribua entre eles. Então, o sábio pergunta-lhes se gostariam que ele as distribuísse como Deus...
Em mais um bom livro de Mário Sérgio Cortella, tem uma passagem interessante em que ele relata sobre um sábio que meditava num morro, quando chega um grupo de dez meninos com um saco com quatorze balas, pedindo-lhe que as distribua entre eles. Então, o sábio pergunta-lhes se gostariam que ele as distribuísse como Deus ou como os homens fariam? Os meninos prontamente responderam “como Deus” de forma unânime, acreditando que seria a mais sábia e justa. Então ele começou a distribuí-las:
– Você fica com cinco, você com duas, você com nenhuma, você com uma…
Pois é, podemos dar a interpretação que melhor nos convier a essa parábola, mas é difícil discordar, pois se interpretarmos as “escolhas” de Deus como destino, é inegável que é assim mesmo que na realidade as coisas acontecem. A “distribuição de Deus”, sob nossa perspectiva, não nos parece nem justa, nem sábia – há os que recebem balas demais e vivem uma vida maravilhosa do início ao fim e há os que não recebem bala alguma e morrem sem jamais ter provado uma única sequer. Os destinos de nós, seres humanos, acreditando serem frutos dos desígnios de Deus, são tão díspares que bagunçam a razão e a fé de cada um – ao menos daqueles que permitem-se eventualmente alguma reflexão sobre o tema.
Já sob o critério dos homens, deixando os egoístas e déspotas à parte, há sempre uma tendência, ou intenção, de se fazer uma distribuição equânime, na qual provavelmente cada menino receberia 1,4 balas – é como se o ser humano fosse de alguma forma propenso a criar igualdade nas diferenças.
Podemos então interpretar de diversas maneiras: desde que as distribuições são, afinal, aleatórias e sem critérios subjacentes algum, até que haveria tanta sabedoria nesses critérios, que estes estariam além do alcance da nossa pobre e limitada compreensão. Mas, o fato é que os meninos certamente saíram frustrados pela forma que as balas foram distribuídas – mas não todos, já que uns poucos tiveram bem mais sorte que outros. Então, interessante seria esquecermos os critérios da distribuição e centrarmos no que realmente importa: o que cada menino fez com suas balas – ou com suas vidas – após a distribuição das mesmas, pois é inegável que sempre há repercussões distintas dependendo de quanto cada um recebeu como parte do seu destino.
Fica a reflexão.