O sigilo da vergonha

Será julgado hoje, no plenário do Senado, o pedido de cassação de Renan Calheiros, sugerido pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), sob a acusação de utilizar “laranjas” para adquirir veículos de comunicação em Alagoas, em sociedade com João Lyra, candidato derrotado ao governo do Estado no ano passado.
Entretanto, os sete indícios de quebra de decoro parlamentar apontados pelo senador Jefferson Peres, relator do Conselho de Ética, podem não ser suficientes para tirar o mandato do senador alagoano. Quase ninguém, até no próprio Senado, aposta um real furado na sua cassação, por um motivo muito simples: a votação será secreta.
Já vimos este filme antes, não? Não é o caso de avaliar o certo e o errado, a cassação ou a absolvição. Trata-se de algo mais sério, o fato do político querer dar um voto do qual publicamente se envergonhe, por isto ele só o fará em segredo. O resultado é tão previsível que já se aposta também que Renan não vai renunciar à presidência antes da votação da proposta que prorroga a CPMF, quinta-feira.
Há um acordo entre partidos. A bancada do PT, que tem 13 senadores, absolve Renan e o PMDB aprova a CPMF. Outro acerto para assegurar o sigilo da vergonha: quem revelar o voto corre risco de responder a processos por quebra de decoro parlamentar.