Se você é um médico plantonista do pronto-socorro e chega um homem com um ferimento a bala no abdômen, a prioridade será obviamente intervir naquela lesão para que o mesmo possa sobreviver. Nesse momento, não importa se ele tem hipertensão, diabetes, cálculo renal, cirrose ou mesmo um câncer a lhe corroer as entranhas – ou...
Se você é um médico plantonista do pronto-socorro e chega um homem com um ferimento a bala no abdômen, a prioridade será obviamente intervir naquela lesão para que o mesmo possa sobreviver. Nesse momento, não importa se ele tem hipertensão, diabetes, cálculo renal, cirrose ou mesmo um câncer a lhe corroer as entranhas – ou trata os órgãos, tecidos e vasos lesionados pela bala ou o coitado morre. Uma vez tratado o ferimento, ele estará pronto para cuidar das demais doenças. Simples assim.
Pois bem, sempre citamos como prioridade dentre os problemas do Brasil, as mazelas de sempre e que merecem toda atenção do Estado: saúde, educação, economia, emprego, previdência, etc. Porém, o Brasil acaba de chegar ao pronto-socorro com um ferimento a bala no quesito segurança pública.
De que adianta criança na escola, se ela pode ser atingida na calçada por uma bala perdida? De que vale um sistema público de saúde eficiente, quando se pode levar uma facada por causa de um celular? E o que dizer do crescimento do PIB de 10%, quando se tem a casa invadida por bandidos armados? Como investir no turismo, se um turista pode levar um tiro no peito enquanto aprecia nossas belezas naturais? Está claro que, nesse momento, a prioridade do Estado é a segurança pública e ponto final. Todos os outros problemas tornam-se, se não menores, menos urgentes sim, na necessária escala de prioridades.
Entendo então, que esse é o momento de colocarmos o dedo na ferida, mas não na intenção de machucar mais, mas sim de estancar o sangramento da violência urbana que nós brasileiros submetemo-nos diariamente. Devemos pensar que algo tem que ser feito com urgência se tivermos a intenção de um dia sermos um país que ofereça aos seus cidadãos o mínimo de qualidade de vida. Sem segurança para se ir e vir, ou mesmo simplesmente de ser e estar, não se constrói, não se eleva, não se engrandece, não se aprende, não se ensina, não se desenvolve e finalmente não se vive – somente se mata e se morre.
Então vem a escolha, nas próximas eleições, de um candidato que possa fazer alguma diferença nesse quesito. Recuso-me até em falar em nomes, mas é inevitável não pensar em um deles – embora sua solução simplista não me convença ser totalmente eficaz. Todavia, como ser contra alguém que aponta o dedo certeiro para o buraco de bala no abdômen e diz: a violência é o maior problema do Brasil!
O fato é que se não houvesse esse ferimento a bala, as prioridades, as discussões, os investimentos e as necessidades seriam outras, assim como as opções de candidatos também -então somente num outro momento escolheremos médicos melhores para tratar os demais problemas eletivos.
Mas, e agora, fazer o que?
– Soro! Anestesie! Entube! Pinças, fios de sutura… e mãos à obra