Blog

Usuário Legado

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

O “velho Zaca”

Bem depois do horário que me permitiria comparecer ao seu sepultamento, recebi ontem a notícia do falecimento do jornalista Zacarias Santana, que tive o privilégio de conhecer ainda em 1970 e com quem, para uma satisfação ainda maior, tive o prazer de compartilhar a vida de uma redação logo um ano depois.
As imagens que me ficam do “velho Zaca”, como carinhosamente o tratávamos, são todas extremamente positivas.
Tranqüilo, sereno, ponderador, mas pronto para fazer valer a sua autoridade de editor geral da Gazeta de Alagoas, onde era depositário de toda a confiança do senador Arnon de Mello e, depois de alguns anos, também dos seus filhos Fernando e Pedro, com os quais dividia a responsabilidade de conduzir as empresas do grupo.
Régua de mais de 50cm nas mãos, canetas porosas por perto, papel de diagramação tamanho natural do jornal, Zacarias era a imagem do paizão, às vezes distribuindo broncas, às vezes comentando satisfeito bons textos publicados, sugestivos títulos utilizados e belas páginas montadas por seus comandados.
Eu, como todos editores de páginas, também tínhamos que diagramar, ofício que aprendemos com ele. Todos nós. Aí incluídos Márcio Canuto, João José, Freitas Neto, Artur Gondim, Gouveia Filho, Petrúcio Vilela, Alves Feitosa, Teófilo Lins, só para citar alguns.
Santana discutia os assuntos em pauta, aceitava sugestões, mas cobrava responsabilidades, impunha respeito por suas atitudes e comportamentos.
Certa feita, “ousei” modificar uma matéria passada por telefone por Arnon de Mello, para que o enfoque maior ficasse com o jogo que o CRB fizera de forma inédita, contra o CEUB, em Brasília, e que fora assistido pelo senador, acompanhado de amigos.
“Você sabe o que está fazendo, vá em frente”, disse, como em sinal de apoio.
No dia seguinte, chamou-me com um grito, em tom ameaçador: “Waldemir, seu patrão quer lhe falar, está ao telefone”.
Quase levo a carteira do trabalho junto, quando me dirigi a sua sala. Aí, enquanto o senador desfilava elogios pelas mudanças efetuadas, Zaca ia abrindo cada vez mais o sorriso. Depois do susto, ele franziu a testa e falou: “Eu não disse a você, porra”.
Também estivemos muitas vezes juntos quando editei na Sergasa um jornal que eu mesmo escrevia, vendia, cobrava, pagava, para distribuição gratuita nos estádios e em diversos pontos da cidade.
Ali, ao lado de Carlos Duarte, de novo aprendi muito, ao tempo em que recordávamos os bons tempos de redação quando a Gazeta de Alagoas funcionava na rua do Comércio.
Devo confessar que hoje, ao acordar, parece que só então caí na real. Perder o Zaca, depois de tanto tempo sem vê-lo, foi uma dose forte demais. Que Deus o tenha.

Veja Mais

Deixe um comentário