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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Oba oba

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Oba-oba

 

 

Passei esse último janeiro quase todo ouvindo- ainda que involuntariamente – as musicas que são os sucessos do momento -sertanejas, arrochas e forrós estilizados. São todas cantadas por artistas risonhos e cheios de energia que tocam para uma plateia idem. As musicas falam quase sempre de ostentação financeira, conquistas sexuais, revanches amorosas, mulheres e homens gostosões e baladas, muitas baladas -ou seja, musicas que representam fielmente o momento em que vivemos. Posso estar enganado, mas  minha percepção à distância é que essa  é uma geração muito mais feliz que a minha foi -ou ao menos que eu fui. Eu explico:

 

Hoje começo a acreditar  que talvez não tenha feito as escolhas certas, sobretudo nas musicas que ouvi na minha juventude. Ouvia Rock e MPB, e quanto mais ouvia, mais exigente ia me tornando em relação a tudo: qualidade musical, festas , valores,  amigos, namoradas, enfim, sobre a própria vida. Aprendi a tocar violão e a garimpar joias musicais sem me importar se eram novas ou antigas. Claro que existiam as musicas modais da época -o axé music e o brega davam os primeiros passos  no cenário musical. Alguns amigos começavam a ir a  Salvador nos carnavais, e outros a ouvirem musicas extremamente simples e vazias de conteúdo, com a simples intenção de se embebedarem com um sorriso nos lábios -mas, eu as desprezava categoricamente; afinal preferia ouvir algo mais elaborado, com melodias e acordes mais criativos, bem como letras mais profundas que na maioria das vezes me deixavam mais reflexivo -ou seja…mais triste.

 

Acho que não existe poesia, ou obras primas de qualquer área artística oriundas da alegria. O “oba-oba” não é capaz de fornecer ferramentas para se produzir conteúdos belos e primorosos. A sensação é que é necessário algum grau de nostalgia, dor, desencanto e amargura para se produzir algo mais refinado. A alegria como fim nela mesma, que percebemos nas musicas e nas pessoas que as ouvem, é capaz de produzir apenas musicas e artistas que não duram mais que um verão -são efêmeros e descartáveis, assim como a maioria dos relacionamentos que surgem sob suas melodias.

 

Acontece que hoje, olhando para trás eu me pergunto: será que fiz a escolha certa? Enquanto ouvia Marisa Monte, alguns amigos encantavam-se com Sara Jane. Enquanto ouvia Djavan, outros enchiam os ouvidos de Beto Barbosa. Enquanto ouvia Legião Urbana, outros se acabavam escutando  É o Tchan -e todos esses eram talvez bem mais felizes com suas musicas “Oba Oba” que os faziam beber, dançar e não refletir nada em relação a vida. Ouvir The Doors ou mesmo Beatles nos deixava meio sorumbáticos, enquanto Harmonia do Samba e Netinho provocavam uma alegria meio boba -hoje eu me pergunto: não teria sido bem melhor?

 

Para que pensar tanto sobre a vida e ser tão exigente com ela mesma, quando se pode ouvir musicas simples, modais e banais com o único propósito de celebrar e se divertir? Esse verão me fez refletir sobre quão certo estava a maioria quando ouvia esse tipo de música, que hoje tomou conta de forma avassaladora o mercado musical.

 

Mas, infelizmente existe uma maldição para os que são  mais exigentes com as musicas que se ouve. É muito difícil retroceder e se encantar com um Safadão da vida e também delirar com rimas fáceis e melodias óbvias das musicas sertanejas. Estou condenado para sempre a não ter momentos de alegrias exacerbadas, conservando em mim uma postura mais reflexiva e taciturna em relação a vida. Pobre de mim e dos que fizeram essa opção. Melhor seria ter me entregue lá trás às musicas bobas, alegres e efêmeras -o certo é que, se assim tivesse sido,  hoje minha vida estaria completamente diferente; em tudo talvez. Seria bem menos exigente em relação a ela e com mais momentos de entrega,  ouvindo músicas que rimam lindamente  Ciroc com Evoque e garçon com Chandon.

 

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