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O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Fernando Toledo (PSDB), capitaneado por deputados estaduais, propuseram uma solução para o fim da crise no setor canavieiro alagoano: que os parlamentares façam um “mutirão” para ajudar fornecedores e usineiros. Segundo ele, antes, quem era rico não consegue, hoje, comprar comida. Não deu nomes dos novos miseráveis dos canaviais das Alagoas.
Claro, o esforço deve ser necessário, mas ainda não notado pela mesma Casa de Tavares Bastos, para equacionar suas próprias chagas: por exemplo, a reeleição do próprio Fernando Toledo para o cargo de presidente da Assembléia, em uma eleição ilegal e inaceitável.
O exemplo da indigência não vale para o grupo Toledo, do qual Fernando Toledo faz parte. Mas, talvez por coincidência, hoje o ministro da Educação, Fernando Haddad, esteve em Alagoas, para assinar com o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), também usineiro, um “pacto pela Educação”.
E qual a diferença entre o estado famélico dos usineiros e produtores com a Educação? E que relação isso tem com as dívidas sociais dos donos dos canaviais?
O professor-doutor pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Fernando Lira e o professor, também doutor em Economia, Cícero Pèricles, estudaram essa questão. Mas, o blog traz à balia um livro, quase esquecido, do professor Lira, Formação da Riqueza e da Pobreza de Alagoas.
Lira derruba alguns mitos. Por exemplo: os usineiros ou produtores não estão em estado de inanição ou desgraça estomacal, como sugerem os deputados. O professor da Ufal faz uma análise da expansão da cana de açúcar, as falhas na constituição da mão de obra para o corte da cana e, consequentemente, o analfabetismo, o sub-emprego, o êxodo rural. Lembrando: Alagoas é líder em quase todos os índices de analfabetismo no Brasil.
O poder econômico refletiu-se no poder político. Diz o professor: “Com esse consenso, o poder político oligárquico, espraiando-se por todo o Estado de Alagoas, constitui-se numa forte camisa de força que, historicamente, tem condenado a região a uma situação de relativo atraso econômico e social. Como se trata de um poder com raízes profundas no coronelismo, o modo de produção, as relações de trabalho e sociais não mudam e, por isso mesmo, têm hoje os mesmos grandes e graves problemas que existiam no século passado” (página 82).
O poder é arbitrário, privilegia uns em detrimento de outros. A discriminação é a marca para a sociedade. E- para Fernando Lira- Alagoas entra no terceiro milênio em condição humilhante: analfabetismo, administrações públicas com resultados pífios, fome, miséria, corrupção, corporativismo. Isso do lado dos mais pobres, de fato. Aos mais ricos, privilégios. Inclusive estatais, como os subsídios oferecidos para ajudar as usinas, todos os anos à beira da falência e as 24 famílias com o pires na mão, mendigando nas ruas de Maceió.
Conta Fernando Lira, talvez de forma ímpar e corajosa, que mesmo na década de 80, a situação econômica das usinas não era pior. Nem hoje. Pior mesmo tornou-se a situação da sociedade, no rastro do açúcar: nível geral de instrução baixo “funcionam como verdadeiras amarras que imobilizam o indivíduo e a sociedade frente à realidade tornando-se o Estado dependente, submisso e incapaz de construir o seu futuro, com base num modelo endógeno” (página 219). São os “trabalhadores fora da lei” porque a lei foi ditada pelas normas do açúcar.
De resto, é fácil, caro professor, entender a história. Óbvio que os deputados se preocupam com os problemas do campo em Alagoas: suas campanhas são financiadas, diretamente, pelos usineiros ou produtores, em uma suposta míngua de víveres, talvez sem dinheiro sobrando para novos investimentos políticos.
Quanta maldade, caro leitor, pensar assim.