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Há muito a se falar e a se pensar sobre o discurso do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) apelando para o fim da greve dos professores. O blog reproduz o texto da Agência Alagoas e deixa ao leitor as suas próprias conclusões. Mas, há pelo menos um ponto que não se explica- e não está no discurso de Vilela: se existe crise financeira, a criação de mais uma secretaria, a da Paz, para agregados do Governo ou os rebentos do deputado federal Givaldo Carimbão, não soa negativo para os 10.080 professores de Alagoas?

Na íntegra, o discurso do governador:

Minhas senhoras, meus senhores.

Eu queria antes de mais nada, parabenizar pela posse os conselheiros escolares eleitos para o biênio 2009/2011, e esperar que o tema deste seminário realmente influencie na construção de uma cultura de paz na escola e na família.

Quantas vezes, muitos de nós aqui presentes, andando pela cidade, fomos confrontados com a triste realidade de jovens e crianças, pedindo esmolas nos sinais, ou ainda cheirando cola nas marquises, se prostituindo nas calçadas ou praticando pequenos furtos — quando não de arma na mão, ameaçando a vida das pessoas e expondo suas próprias vidas ao perigo?

Esta foi a forma que eu abri meu discurso no lançamento do Pacto da Educação. E acho extremamente apropriado relembrar aqui aquele momento, onde a sociedade alagoana, como um todo, se uniu em busca de um solução para os problemas educacionais do nosso estado.

Hoje, sei que muitos passos que deviam ser dados pela Secretaria da Educação e sua valorosa equipe, foram dados.

Como, por exemplo, as fichas de acompanhamento dos alunos infrequentes. Só dessa forma poderemos garantir o acesso e a permanência dos nossos jovens na escola.

Através do Pró-aletramento, oferecido pelo MEC, estamos formando professores alfabetizadores, de forma a cumprir o que o Pacto diz: que as crianças matriculadas no ensino fundamental aos 6 anos, cheguem aos 8 anos, sabendo ler e escrever.

Sem esquecer da construção de fichas avaliativas, com as aprendizagens básicas para atender a cada ano de escolarização, com vistas à alfabetização das crianças, elaboradas pelos professores sob a supervisão do Conselho Estadual da Educação e da Secretaria de Estado da Educação.

O Pacto ainda assegura que todo educando aprenderá o que é apropriado para cada ano de alfabetização.

Para isso, a equipe da Secretaria da Educação está trabalhando velozmente na elaboração das competências e habilidades para cada componente curricular, em cada ano da escolarização.

Outro ponto importante, dentro do Pacto, é o Programa de Cooperação Técnica entre o MEC, o PNUD e a Secretaria de Educação de Alagoas.

E é uma vitória dos técnicos da Secretaria da Educação, que com o apoio de consultores do MEC/PNUD, trabalharam na reorganização da Secretaria da Educação, reforçando aspectos importantes do Pacto da Educação, com ações de universalização do acesso, da garantia da permanência e de aprimoramento das práticas pedagógicas desenvolvidas pelas escolas públicas do Estado.

Este programa tem recursos próprios, vindos do MEC, da ordem de 200 milhões de reais.
Sei que isso não é tudo: temos ainda muito que fazer.

E o Governo é responsável. A Secretaria da Educação é responsável. Os educadores são responsáveis. Os sindicatos, e não só o dos professores, são responsáveis.

E principalmente sei que o grupo de técnicos da Secretaria envolvido neste trabalho, hoje tem mais que responsabilidade: eles vivem um momento de envolvimento emocional com o assunto. Pois eles têm a clara noção do que estão fazendo para o futuro de nossas crianças, o futuro do nosso Estado.

Aliás, quando eu vinha pra cá, vinha pensando na importância do envolvimento que todos nós, como alagoanos, temos com o Pacto da Educação.

Lembrei-me da história de uma professora que fazia todo o santo dia o mesmo caminho de casa até a escola. E um dia — que com certeza não foi um bom dia — foi assaltada por um garoto de uns 20 anos, chamado Zé Roberto.

Ele assaltou a professora porque não tem caráter ou porque não teve escola?

E olha que Zé Roberto já foi à escola.

Nunca aprendeu a ler. Desistiu aos 9 anos.

Seus pais estavam conformados, porque achavam que o filho era igual a eles, que também são analfabetos.

Deixando a escola, Zé Roberto, de um jeito ou de outro, sabe-se lá como, sempre apareceu com um dinheirinho para ajudar os pais.

E eu pergunto: os pais de Zé Roberto são culpados? Ou vítimas?

Zé Roberto podia ser um dos alunos que estudava na escola da professora que ele assaltou.
A escola onde ela dá aula não tem as melhores condições de ensino.

As paredes estão sujas e velhas, o telhado precisa de conserto, e a maior parte dos banheiros não funciona.

Boa parte dos alunos é muito parecida com Zé Roberto, não sabe nem ler nem escrever.
A professora pensa às vezes: como chegaram a tal ponto.

Seria culpa do Governo? Da Secretaria da Educação? Do sindicato? Das greves? Dos empresários? Da sociedade civil?

Não.

A principal pergunta é: os alunos desistem porque não aprendem, ou não aprende porque desistem?

A verdade, a verdade mesmo, é que quando vemos o problema individualmente, ninguém é culpado.

A culpa, individualmente, não é dos professores. Não é dos empresários. Não é da sociedade. Não é dos técnicos da Secretaria da Educação. Não é dos sindicatos, nem das greves.

Agora, junte tudo isso de um lado da balança, e só uma vítima vai aparecer… Aliás, não é uma só vítima. É uma geração ou duas de vítimas.

São crianças e jovens, meninos e meninas, abandonados ao seu próprio destino, enquanto num círculo vicioso, como um cachorro correndo atrás do rabo, se juntam políticos, governo, sindicatos, professores e a sociedade como um todo.

O Pacto da Educação é um caminho para pararmos de procurar culpados, e nos unirmos todos, fazendo uma mudança radical no futuro de Alagoas.

A palavra de ordem não é culpa.

E sim: solução.

Por tudo isso, me sinto no dever de pedir aos professores que se mantenham nas salas de aula, lutando como todos nós para iniciarmos o salvamento desta geração de alagoanos.

Sei que é justa toda a reivindicação de melhoria salarial. Sei que os trabalhadores ganham aquém do que merecem. Sei que os trabalhadores da educação, em todos os níveis, recebem menos que o merecido por seu papel essencial na formação de novas gerações.

Mas sei, e todos vocês sabem, que o Estado tem limites em seu caixa, que os recursos disponíveis são menores — bem menores — que o mínimo exigido pelas necessidades básicas de uma sociedade como a alagoana, repleta de obstáculos a superar.

Dizem que os estados não quebram. Dizem que basta vontade de fazer… Os discursos, a vontade, o desejo, nos fazem dizer muitas coisas, muitas das vezes, em contradição com a vida.

Pois simplesmente fazer o que a vontade nos dita exige, antes da tomada de decisão, ter pleno conhecimento das consequências dos atos a serem tomados.

E a história mostra que os Estados quebram. Ou o estado de Alagoas não quebrou em 1997? Quais foram mesmo as causas da crise trágica que explodiu em 17 de julho de 1997? Vocês já pensaram sobre isso?

Vocês já raciocinaram sobre os motivos que fizeram com que cerca de oito folhas de pagamento se acumulassem em atraso até junho de 1997?

Infelizmente, às vezes é mais fácil aos discursos simplificarem o caos culpando a corrupção e a incompetência, chavões que quase sempre escondem problemas mais complexos e de respostas menos agradáveis aos defensores da simplificação política.

A base dos trágicos acontecimentos que desembocaram em 17 de julho de 1997 está, principalmente, no aumento desordenado da folha de pagamento de pessoal, crescimento tal que tornou-se simplesmente impagável entre 1995 e 1996. E os resultados todos nós conhecemos.

E tudo começou com uma decisão que pode ter sido baseada na mais justas das demandas: reajustar os salários.

Sei que todo magistério merece ganhar mais do que ganha hoje. A questão é saber se o Estado tem condições de pagar os aumentos reivindicados.

Vocês acham que se existisse um mínimo de condições para atender às demandas de todos os servidores, algum governador deixaria de fazê-lo? Quem, em sã consciência, não prefere ser aplaudido a ser vaiado? Qual político prefere perder votos a ganhá-los aos milhares?

Prefiro o aplauso à vaia, o sorriso à cara amarrada, e sonho com a possibilidade de assinar as autorizações para que os servidores possam ganhar o que sonham.

Mas a realidade é outra. É nessa realidade que vivemos e lutamos para modificar. Mas para modificá-la é necessária a disposição de falar a verdade, de dizer “não” quando a negativa se impõe como palavra indispensável para evitar prejuízos terríveis para todo o povo alagoano.

Estamos tentando superar as grandes dificuldades vividas por Alagoas. E na área educacional, sinceramente, o principal problema não é o salário do magistério. O principal problema é o índice de analfabetismo. Problema igualmente terrível é a sistemática perda de ano letivo que tem cassado a muitos milhares de jovens as chances de sucesso num mundo cada vez mais competitivo.

Há poucos dias, em reunião com a CUT e com o Sinteal, foram abertas as portas da Secretaria da Fazenda para que as entidades sindicais possam estudar detalhadamente todas as contas do Estado.

As entidades sindicais foram autorizadas, inclusive, a contratar especialistas em contabilidade pública para fazer o trabalho com toda a técnica possível. Havendo chances de aumentos salariais comprovadas por essa auditoria, o compromisso do governo do Estado é pagar os reajustes que nossos recursos permitirem.

Mas, com a confirmação das dificuldades do erário alagoano em arcar com as reivindicações salariais, o que fazer? Fechar, de uma vez por todas, as escolas estaduais? Onde estudarão nossas crianças e jovens?

Como governador, asseguro a vocês que não cometerei irresponsabilidades, mesmo que sejam irresponsabilidades simpáticas ao clamor das ruas.

Como governador, e como simples cidadão alagoano, solicito de vocês todos a compreensão para a realidade de Alagoas. Reafirmo a proposta de abertura de toda a contabilidade do Estado para que, dentro desta realidade, sejam construídas soluções salariais verdadeiras — não só para os professores, mas para todos os servidores do Estado de Alagoas.

Apelo a todos para que façamos uma parceria real, verdadeira, voltada para o desenvolvimento do Estado. Sem desenvolvimento não há mágica. E desenvolvimento se conquista com capacidade de investimento, criando condições para instalação de empresas e ampliação da capacidade produtiva dos empreendimentos já existentes e, principalmente, com educação.

Acredito na possibilidade de mudar Alagoas. Mais sei que não será uma tarefa fácil. Sei também que essa tarefa só será realizada com a união entre governo e sociedade.
Estou convencido de que estamos no caminho certo. Vamos adiante com a certeza de que juntos vamos vencer todos obstáculos e transformar Alagoas.

Por tudo isso me sinto no dever de pedir aos professores que se mantenham nas salas de aula, lutando como todos nós para iniciarmos o salvamento desta geração de alagoanos.
Mais uma vez quero aproveitar a oportunidade para saudar a todos os conselheiros nesse inicio de jornada e destacar a importância do papel democrático dos conselhos em prol da educação dos nossos jovens alagoanos.

E quero ainda, neste momento, reafirmar que, o futuro de Alagoas é muito maior que tudo em nossas vidas.

Muito obrigado.

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