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Luis Vilar

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Para vestibulandos

Encontrei com alguns ex-estudantes que me solicitaram a republicação deste texto. Pedido atendido, segue abaixo:

“O dia-a-dia” nas salas dos cursinhos pré-vestibulares – ministrando aulas de sociologia e filosofia – sempre me pareceu surreal. O vestibular – desde a época em que prestei o meu, há anos luz em um planeta estranho – parece uma piada de extremo mau gosto, inserido em um ritual de tribo que tenta amenizar o estresse: o ritual vai desde o professor palhaço (todos com a mesma cartilha e as mesmas piadas todos os anos) até o material didático cheio de gírias tentando amenizar escolas.

Parece consultório de dentista pediátrico, onde o excesso de ursinhos e desenhos na parede tentam disfarçar o cheiro peculiar, mas acabam o delatando, ou dilatando. Qualquer escolha no processo do vestibular deve ser feita em pouco tempo e de forma superficial: Onde se deve colocar o X da questão (literalmente)? “O que eu quero ser quando crescer?” pode até se transformar em outra pergunta muito mais séria – e não identificada em testes vocacionais – que é: “Quantas possibilidades eu estou matando em mim ao assinar este formulário”.

Caramba! Quem é que precisa mesmo destes ritos de passagem? Reduzir o conhecimento universal a questões simples, direcionadas que vão te induzir ao erro. A pressão de tudo saber. Uma panela de pressão sem contador de minutos para tirar a tampa. Não há como escapar sem seqüelas. No entanto, a vida corrige os erros. Graças a Deus.

No meu caso, fiz duas faculdades – nenhuma delas foi Filosofia (a que de fato queria, mas cedi aos compromissos mercadológicos e futurísticos) – e a vida corrigiu. Deu-me a possibilidade do jornalismo – que encaro às vezes como religião e às vezes como filosofia – e me jogou, quando menos esperava, dentro da sala de aula com a disciplina de filosofia.

Corrigi-me como o cara que faz Direito e vira músico, ou como o cara que faz música e vira empresário, ou como o cara que faz jornalismo e Letras e vira jornalista e professor de filosofia nas horas vagas. É difícil fazer jornalismo e virar jornalista (quem está na profissão deve entender bem isto).

Mas, voltando ao vestibular. No meu primeiro dia de prova, eu fiz parte da imensa multidão que confronta a diarréia. Minha cabeça lotada de conhecimento se misturava com o desprezo que eu tinha pelo ritual que citei no início. Metade do que aprendi me fugiu a memória. O que é mesmo um anel de benzeno? Às vezes – com um pouco de esforço – lembro de Mendel e do sexo das ervilhas.

Ainda tenho em meus ouvidos os conselhos de meu pai e a lembrança de minha mãe rezando o terço para que eu fosse alguém. Ela acha que Deus cumpriu a parte dele. Eu, já nem sei. A vida continua com suas questões de múltipla escolhas e me dando apenas um “X” para colocar em algum lugar, enquanto é necessário explanar mais as coisas. O vestibular não tem a alternativa “talvez” e isto faz dele extremamente falho. Todo reducionismo é “nosense” demais. Além disto, o principal sempre fica fora de qualquer resumo.

O que lembro do meu vestibular: a proximidade da virada do milênio estampando os jornais e eu pensando: “grande porcaria, o mundo vai ser o mesmo”. Infelizmente, neste quesito acho que marquei a alternativa correta. Queria voltar no passado e mudar o gabarito. Eu me sentia o jogador mais “perna-de-pau” do mundo sendo selecionado para bater o pênalti decisivo em final de copa do mundo. A torcida – neste caso – também era extremamente silenciosa. Como se fez barulho depois…

Todas as minhas habilidades se resumiram a um “X” que até hoje tenho dúvidas se foi certeiro, mas que trouxe – não por ele, mas por diversas circunstâncias de querer ficar na contramão – o melhor e o pior de mim.

Quando os estudantes me perguntam como enfrentar este probleminha, transformado em monstro de 547 cabeças, só me resta dizer: “Enfrentai com naturalidade, desprezai o ritual, estudai e caso não consiga, a vida volta a sua programação normal. Para com esta coisa de só ter uma chance só, um único chute. Enfim. Ás vezes, a bola na trave, ensina mais que o gol”. Pensava nisso, nos vestibulares que perdi.

Mas, se existem coisas a serem evitadas durante o clima pré-vestibular, eis algumas: não mate aulas, por mais que os palhaços sejam sarcásticos e grosseiros; não tente suicídio e faça yoga para tentar não ter diarréia; lembre-se que litros de café durante a madrugada não ajudam em nada; todo fim é um novo início (auto-ajuda é essencial, infelizmente) e que a “lei da selva” não foi idéia sua, por isto sem estresse e sem necessidade de querer ser o “leão”. No vestibular, o último e o primeiro entram de mãos dadas em uma “nova fase” que nem mesmo sabe ao certo o que quer dizer…

Ah, não tente acabar a prova logo. Aprenda a respirar fundo. Durante o vestibular há uma lição que não está nos cursinhos: “Na hora H – a depender de como você se educa para se vê – há mais coisas dentro de você do que pode supor toda a vã sabedoria de macetes e lembretinhos colados na porta da geladeira”. Leia bastante durante todo o processo. Ler é melhor que estudar. Por fim, desrespeite as referências bibliográficas. Não sempre, mas dentro do bom senso. No mais, diante de uma possível derrota, ainda nos resta “todo o tempo do mundo”…

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