Há pouco tempo comecei a sentir mais um dos tantos (d)efeitos que nos acometem com o passar dos anos. No princípio era leve, mas aos poucos fui afastando dos olhos o punhado de letras que formam palavras e frases, até descobrir que um bom óculos de leitura me devolveram o conforto dos meus olhos e...
Há pouco tempo comecei a sentir mais um dos tantos (d)efeitos que nos acometem com o passar dos anos. No princípio era leve, mas aos poucos fui afastando dos olhos o punhado de letras que formam palavras e frases, até descobrir que um bom óculos de leitura me devolveram o conforto dos meus olhos e também do meu braço.
A chamada presbiopia, nada mais é que o cansaço e afrouxamento dos músculos responsáveis pelo foco -algo como se nossa lente macro estivesse com defeito. Os transtornos são mais perturbadores que eu imaginava. Em nosso dia a dia temos que fazer pequenas leituras que vão de manuais de instruções, bulas de remédio, cardápios e rótulos de vinhos, e para isso agora, faz-se necessário um artefato de vidro e plástico criado pelo homem; ou seja, nosso próprio corpo apenas não é mais o bastante.
Todavia, o que mais me deixa impressionado com os sintomas da chamada “vista cansada”, é que se perde a capacidade de ver algo que está perto. É surreal você aproximar os olhos e enxergar menos, indo de encontro à lógica estabelecida . Seria o mesmo de quanto mais aproximarmos o nariz da rosa, menos sentirmos seu perfume -algo que soa, no mínimo, incoerente . Imagine o contrassenso que seria de quanto mais distantes do fogo, mais sentirmos seu calor, ou então só percebermos o sabor do delicioso alimento após o engolirmos de uma vez.
Pois é, vamos envelhecendo e acumulando pequenos defeitos físicos, e com isso nos tornando cada vez mais dependentes de artefatos criados pelo homem -sejam óculos ou comprimidos. Mas pensando bem, não é um processo tão incoerente assim. A presbiopia que nos obriga a afastamos dos olhos para ver melhor, nos ensina que muitas vezes só enxergamos melhor uma situação quando fazemos o devido afastamento. É a natureza sábia mostrando metaforicamente que nem sempre percebemos com clareza algo que está perto do nosso nariz -na verdade, de perto ou de longe, com óculos ou sem, só não vê quem realmente não quer.