Estava almoçando com minha filha em um restaurante à beira-mar, quando vi uma cena que , embora comum, chamou minha atenção. A poucos metros de nós estava um senhor bem apessoado na casa dos 70 anos, sentado sozinho na mesa da janela, chuva caindo moderadamente na paisagem praiana, um belo prato à sua frente e...
Estava almoçando com minha filha em um restaurante à beira-mar, quando vi uma cena que , embora comum, chamou minha atenção.
A poucos metros de nós estava um senhor bem apessoado na casa dos 70 anos, sentado sozinho na mesa da janela, chuva caindo moderadamente na paisagem praiana, um belo prato à sua frente e um vinho branco geladinho em cima da mesa. Para completar o valoroso cenário, um livro em suas mãos e um leve sorriso no rosto.
Não havia pressa alguma —aquele momento estava congelado para ele e agora também para mim, que o observava com admiração e uma pontinha de inveja, enquanto volta e meia olhava para o meu relógio lembrando-me dos inúmeros compromissos daquela tarde.
Chamei a atenção da minha filha e pedi para que olhasse o tal homem e todo o cenário em volta. Disse a ela que aquilo era um momento típico de plenitude —ao menos para o homem e agora para mim também. Completei dizendo que a vida oferecia diariamente oportunidades de colecionarmos momentos como aqueles em nossa rotina e que deveríamos, sempre que possível, percebê-los, valorizá-los e, eventualmente, provocá-los.
Convidei-a a perceber o semblante do senhor, a leveza e a sensação de plenitude que ele experimentava naquele momento e aproveitei para dizer-lhe o quanto eu mesmo buscava instantes como aquele em minha vida.
Momentos de plenitude são a valorização do “agora absoluto”, onde tudo que está ali basta e o resto é apenas excesso.
Li há alguns anos que quando isso acontece, entramos em um fluxo de conexão com algo que transcende o que os olhos são capazes de enxergar.
Não precisa ser complexo, nem muito menos caro —pelo contrário, a simplicidade muitas vezes é um belo e providencial combustível —ou seria colchão?
Finalmente, aconselhei-a a incluir momentos como aqueles na enormidade de horas que ela tem à sua disposição, nas dezenas e dezenas de anos de vida que ela terá para viver.
Ela fez que sim com a cabeça e demorou-se observando aquele homem que sorvia o vinho com lentidão e delicadeza, assim como o livro, a comida e a chuva que escorria feito lágrimas pela janela.