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Luis Vilar

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Solução para quem?

Estava conversando com a minha esposa sobre as maravilhosas soluções que muitas vezes o poder público encontra para os problemas que enfrenta no decorrer da administração pública. Algumas, são revoltantes…Parece o caso do marido traído, que pega a esposa com outro na cama e resolve vender justamente a cama para resolver o problema…

Há um balanço de casos assim no jornalismo. Há alguns anos atrás – faço questão de frisar que em administrações anteriores – fiz uma matéria sobre uma família que fez de um ponto de ônibus, nas proximidades do IML, uma residência. Colocaram lona, cobriram o ponto e até dividiram a “casa” em pequenos cômodos. Pois bem, após a denúncia, a Prefeitura Municipal – volto a frisar: em gestões passadas – resolveu o problema: retirou o ponto do local!

Nunca soube ao certo o que aconteceu com aquela família. No dia 24 de dezembro de 2003, também fiz uma reportagem sobre um garoto que nasceu na madrugada daquele dia. O detalhe: a mãe dele – uma moradora de rua – pariu embaixo de um caminhão estacionado na Praça da Faculdade. O menino não tinha sequer uma manjedoura, nem recebeu visita dos Reis Magos. Ao seu lado, ao invés das vaquinhas de presépio, muito lixo, cães e gatos com feridas gigantescas nos corpos. Mesmo assim, recebeu o nome de Jesus.

“É uma homenagem. Achei a história dele parecida”, disse a mãe do garoto, que clamava de fato por um salvador.

Lembro que a cena me chocou muito. Minha esposa estava grávida de minha filha. Eu e minha esposa presenteamos Jesus com algumas roupas. Porém, não fizemos quase nada. Lembro que no dia 28 de dezembro passei nas imediações da praça, onde moravam Jesus e a mãe, juntamente com mais alguns filhos. Ele havia sumido. Segundo soube, uma Kombi passou pelo local e levou todo mundo de volta para o interior. Mais uma vez, sem direito a nada. Foi a solução, mas A SOLUÇÃO PARA QUEM?

Agora, de volta ao mês de dezembro – só que em outro ano – mais três famílias – com cerca de 20 pessoas ao todo – estavam ocupando uma praça que fica em frente aos prédios mais visitados da Ponta Verde. Eles se tornaram visíveis para a classe média rica, que dentou preocupação com os pobres coitados porque eles estavam defecando nas portas de suas casas. Um dia depois, havia policiais revistando as famílias. No outro canto da praça, duas assistentes sociais esperavam silenciosamente pela transferência das famílias para casas alugadas. Os aluguéis serão pagos por três meses…Depois disso…SÓ DEUS SABE…

Em outro caso, semelhante a este de hoje, perguntei a uma assistente social se no caso da família não conseguir um emprego para continuar pagando o aluguel, o prazo poderia ser prorrogado. Perguntei se a lei permitia. Obtive a seguinte resposta: “Pode sim! Mas a gente não divulga porque se eles souberem disso vão querer tirar mais dinheiro da Prefeitura”.

Aluguel de casas no Vale do Reginaldo, com três meses garantidos. Depois disto, se as famílias se enquadrarem em um programa de geração de renda, tudo bem. Se não…bem, se não…sabe-se lá o que vai acontecer! Talvez eles voltem para a praça. Talvez tirem a praça do lugar. Talvez silenciosamente eles sumam. São muitas as soluções, mas estas são SOLUÇÕES PARA QUEM?

Um dia desses, andando por um dos shoppings de Maceió para comprar o computador da Xuxa que tanto a minha filhar quer, li algumas mensagens deixadas em uma das árvores de Natal colocada por uma das instituições de caridade. Alguma criança escreveu ali “qualquer coisa, qualquer brinquedo. Pode ser roupa”. Isto me chamou a atenção…

Sabe, desde que minha filha nasceu, eu me visto de Papai Noel para entregar o presentinho dela. Os olhos dela brilham. Ela não me reconhece por trás da fantasia e no outro dia, ela vem até me mostrar o que ganhou do velho Noel. Ontem mesmo, enquanto conversava com ela, Beatriz me dizia: o ano passado o Papai Noel me trouxe uma bolsinha. Este ano, ele vai trazer um computador da Xuxa.

São realidades dispares, que me leva a querer sair de casa comprar brinquedos e distribuir aos “Jesus” que irão nascer este ano. Porém, estou eu arrumando uma solução para o problema? Estou eu brigando de fato para que o problema seja resolvido? Volto a frisar, a solução que eu arrumo em distribuir brinquedos, o que já fiz por alguns anos, é SOLUÇÃO PRA QUEM? Talvez para mim mesmo, para a minha consciência…

É nessas horas que eu engulo seco…e interrogo-me, em que mundo estou. Se há solução para este mundo é solução para quem? O poder público encontra as soluções dele, nós encontramos as nossas. E assim, vamos nos trancando em apartamentos, carros blindados e dentro do próprio medo. Enquanto isto, lá fora, uma tsuname de conseqüências surreais se aproxima, arrastando a todos para a mesma vala comum da insegurança, do medo, da ausência de perspectivas. Heranças que ameaçam os presépios de muitos inocentes que estão por nascer…

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