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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

TV na sala

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O tempo muda a tecnologia, a tecnologia muda os costumes e este, finalmente, nos muda para sempre.
Lembro-me quando criança, que o grande vilão tecnológico da época era a televisão. Era inclusive tratada por alguns especialistas fatalistas – sim, eles já existiam naquele tempo  e existem até hoje – como destruidora de famílias, causadora de moléstias oculares, péssima influência aos mais  jovens e exterminadora de outros tipos de cultura, como a leitura, por exemplo.
A TV era espaçosa e volumosa e ainda tomava um lugar de destaque nos lares da época, ocupando um canto estratégico da sala. Haviam bastante debates acalorados sobre se era certo ou errado as famílias fazerem suas refeições em frente à  TV, ou quão danoso seria para os membros de uma família ficarem todos ao redor da tela em silêncio, apenas assistindo seu conteúdo, acabando com a interação entre os membros da família. Na verdade, mal sabiam do mal que uma tela infinitamente menor seria capaz de causar como acontece nos dias de hoje…
Bem, cronologicamente tudo começou com o barateamento dos aparelhos de TV que possibilitou que mais televisões fossem compradas e espalhadas pelos quartos. Isso esvaziou a sala que, bem ou mal, integrava os membros da família que gargalhavam juntos com as presepadas dos Trapalhões e se emocionavam coletivamente com as tramas novelísticas. As TVs nos quartos separaram de uma vez, principalmente os mais novos dos mais velhos – era o início lento e progressivo do quadro familiar atual.
O tempo então pariu o videocassete, o videogame, os aparelhos de DVD, as TVs a cabo e por fim a internet. Estava plantada a semente do mal -diriam os especialistas fatalistas de hoje.
Contudo, a pá de cal mesmo veio com o surgimento do celular, ou para ser mais específico, o smartphone – aparelho que é filhote de toda tecnologia anterior e que, apesar de seu tamanho reduzido, engoliu e aboliu quase tudo que existia antes. Era o fim do entretenimento coletivo e o início da individualização absoluta de nós, seres humanos. Acabou-se a mãe que atendia o telefone, cumprimentava a amiga ou amigo do filho ou filha antes de chamá-los para atender a ligação. Acabou-se junto um monte de costumes antigos e surgiram muitas coisas novas também – nem todas boas, infelizmente.
Antigamente quando um filho estava trancado no quarto, em tese estava a salvo naquele momento das mazelas do mundo. Hoje em dia estando sozinhos, ainda assim podem estar sendo vítimas de aliciadores, pedófilos, hackers, haters, maníacos, stalkeadores, bullyings, assediadores , tarados…ufa! É risco que não acaba mais através da minúscula telinha, estando ele deitado em sua própria cama, na suposta segurança do lar.
Os especialistas fatalistas do passado quando apontavam o dedo para o perigo da volumosa e hoje inocente TV no meio da sala, não imaginavam o que estava por vir. Saudades da época em que assistíamos todos, pai, mãe e irmãos as palhaçadas dos Trapalhões, as matérias intrigantes do Fantástico, para finalmente ver os Gols da Rodada antes de deitar na cama no quartinho escuro – quando de fato ficávamos a salvo das mazelas do mundo.

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