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E se o presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), renunciar ou cair do cargo? As composições do xadrez eleitoral de Alagoas mudam porque a posição do senador Renan Calheiros (PMDB/AL), no plano nacional, se altera. Primeiro, sua correlação de forças com o Palácio do Planalto oscila. Renan perde uma aproximação quase confortável diante do presidente Lula. Lula está na casa dos 80% de popularidade (diferente do senador Calheiros).
Terão- Renan e Sarney- que manter os espaços do PMDB. Antes, nas eleições à cadeira azul do Senado, Renan estava de volta ao “topo do poder”. Agora, os dois dependerão de Lula para sobreviver no próprio PMDB- com divisões internas estimuladas pelo próprio Lula- e com Pedro Simon (PMDB/RS), voz discordante e incômoda contra Calheiros e Sarney. "O Brasil vive o fim de um ciclo na política. Sarney é o último ‘coronel’ da política brasileira". É o que diz Simon. Este “coronel” terá de sobreviver no Maranhão. Não estará morto, diga-se.
Saindo dos muros de Brasília, sobrará a Renan o eleitorado de Alagoas- vide-se: prefeitos e vereadores, que não abandonaram o barco do pemedebista. Nos cálculos atuais, Renan tem 40 prefeituras. O apoio dos suplentes de vereadores, que dependem da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para entrarem nas casas legislativas, deve ajudar a empurrar a nau calheirista. Terá ainda como um dos principais aliados o prefeito de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus (PMDB), citado nas rodas dos Calheiros de Murici. Matheus quer voltar a Câmara Federal. Os prefeitos com votos canalizados ao deputado federal Olavo Calheiros (PMDB) também tentarão garantir uma vaga de Renan em Brasília, em 2010. Os dois, por enquanto, são os principais caciques de Renan. E não devem ser subestimados.
Um cacique negará- se quiser- apoio a Renan: o senador João Tenório (PSDB), sem colégios eleitorais, sem disposição financeira de entrar em uma campanha, mas com aproximação com o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), em plena crise de popularidade, mas ainda decisivo nas articulações em 2010. Os calheiristas, juram os tucanos, tentaram cargos no Governo. Novamente, juram os tucanos: o governador negou os espaços.
O senador Fernando Collor (PTB), em retorno ao palco político nacional graças a Renan, na gerência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)- carro-chefe da campanha presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rouseff, terá como opção ajudar Renan. Ironia de um destino cruel: dará a mão àquele que sempre a negou. Collor tem votos na classe média baixa. Na visita do presidente Lula a Palmeira dos Índios, há três semanas, não se duvidava da popularidade de Collor. Dela Renan precisará.
O PT de Alagoas poderá romper com Renan, se assim for a vontade do ex-deputado federal José Dirceu. Renan pode ajudar ou atrapalhar Dilma em 2010, é o pós-queda de Sarney quem dirá isso e as articulações do PMDB nacional, que pode ameaçar correr para o PSDB ou DEM, caso Renan mantenha os espaços de poder nas linhas pemedebistas. E Lula pode ajudar ou não a transferir votos a Renan.
Desde 2002 os petistas alagoanos estão sob intervenção de Brasília. Todas as alianças são fechadas aos critérios do Palácio do Planalto. Em 2010, estes critérios obedecem a Renan Calheiros. E na eleição do deputado estadual Paulo Fernando dos Santos, Paulão (PT), a Câmara Federal, que é prioridade para sindicatos comandados por petistas e a base do PT. Essa lógica não deve ser alterada com a entrada do superintendente da Polícia Federal, José Pinto de Luna, no PT.
O PSOL lançará a vereadora Heloísa Helena ao Senado. É pela atuação de Heloísa Helena na Câmara que se observam estes movimentos: em seus discursos, evita confrontos diretos com o prefeito Cícero Almeida (PP), a quem faz oposição. Evita falar nas acusações levantadas pela Operação Taturana ou nas investigações sobre as Oscips, no Ministério Público Estadual.
Almeida foi eleito com 80% dos votos. E este mesmo prefeito de Maceió é um provável candidato ao Governo do Estado, a “cereja do bolo” para o retorno de Collor e setores afastados desde a queda do ex-governador Divaldo Suruagy, em 1997- a velha direita- da sede do Governo Estadual.
Ou até mesmo uma possível eleição de Collor, no Executivo. Talvez uma opção distante. As finanças de Alagoas, no final da década de 80, época Collor na chefia do Executivo Estadual, eram mais administráveis que os atuais R$ 7 bilhões de uma dívida pública impagável e 15% de sua receita corrente líquida comprometida com a União pelos próximos 20 anos, resultado dos tantos e fracassados empréstimos. Os próximos governantes vão conviver com um Estado na linha de gastos quase no vermelho, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Claro, o estilo político de Renan Calheiros não deve ser desprezado. Renan é um sobrevivente desta forma velha e ao mesmo tempo atual de fazer política. Mas, depois de duas quedas (a primeira, diretamente, do Senado, e agora com Sarney), resta saber se ele será imbatível neste jogo como há oito anos atrás. A vez de jogar no xadrez das eleições, porém, ainda pertence ao nosso Maquiavel: Renan Calheiros.