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Luis Vilar

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Um texto para alargar horizontes

Sempre achei o jornalismo opinativo uma vanguarda no país e no mundo. Porém, aqui em Alagoas ele engatinha e – por vezes – alguns esbarram em ameaças para tentar coibir o avanço da democracia. Como acredito no que defendo, acheio um texto maravilhoso, que divido com companheiros jornlistas e com o público geral. Para quem tiver interesse é claro…

Ameaçar em troca do silêncio é a pior atitude. É desconhecer o papel importante da crítica, no sentido analitico e aprofundando. Sem superficialidades ou personificações…

Eis o texto. Fonte: Balaio de Notícias

Essa tal de objetividade

Por Paulo Lima

O equívoco começa nos bancos da faculdade, quando tudo se espera do aspirante a jornalista, menos que tenha opinião. Podado dessa função primordial, o foca é atirado na vertigem do mundo e levado a descrevê-lo com total isenção de ânimos, como se fosse um ser transparente, destituído de nervos, cérebro e emoção. Estabelece-se a partir daí um ideal que, a rigor, raramente será encontrado no mundo real – e isso o noviço vai aprender a duras penas: a busca da objetividade jornalística.

A discussão é bizantina e pode soar mais das vezes contraproducente. Basta dar uma olhada ao redor. No fluxo diário de informações que brota de jornais, rádio e TV há de tudo – inclusive informação. Mas aqui e ali se insinua – às escâncaras ou de forma ladina – o viés, a marca do crime: o jornalista opinou, tomou partido. Pingou no texto sua impressão, sua marca, sua visão de mundo, sua cor partidária, seu time preferido.

Ora, pois. E jornalista não é gente? Não está sujeito a injunções, ventos vacilantes, oscilações de humores, temores, dúvidas? A certeza cartesiana que se lhe quer impor existirá? Desde o jornalão paulista ao hebdô de Santa Mariazinha do Passa Quatro, lá está o pitaco, que às vezes se insinua numa palavrinha. Palavras são palavras são palavras. Perigosas, perigosas, perigosas.

O tópico continua derretendo muita massa cinzenta por aí. E novas tendências começam a surgir no horizonte, pondo por terra velhas concepções. No artigo "O crepúsculo da objetividade", publicado em 31/3 na revista eletrônica Slate, ligada ao Washington Post, o editor Michael Kinsley escreveu a respeito deste assunto. A partir dos exemplos de Lou Dobbs e Anderson Cooper, âncoras da CNN, Kinsley reflete sobre a objetividade no jornalismo.

Dobbs e Cooper eram jornalistas enquadrados nos padrões convencionais, e, de repente, assumiram atitudes mais agressivas, que repercutiram nos índices de audiência da emissora. O que teria provocado as mudanças? Segundo Kinsley, a explicação é a concorrência da internet. Não resta dúvida de que ela está provocando mudanças profundas na indústria da notícia, e colocando em pânico as mídias tradicionais. O que se discute é a extensão dessas transformações. O que profissionais como Dobbs e Cooper têm feito é tentar segurar o público da TV, ao estabelecer uma atitude mais humana, fato que tem influenciado outros âncoras. E têm assumido esse comportamento oferecendo mais "compromisso emocional". Numa palavra: mais opinião.

Essa guinada põe em cheque o conceito de objetividade. "A objetividade – a fé professada pelo jornalismo Americano e seus críticos – não passa de uma presunção", escreve Kinsley. Porém, não se trata do fato de que todos os jornalistas são preconceituosos e, por isso, a objetividade perfeita é admirável, mas inatingível. Para Kinsley, o problema é que o conceito em si é confuso. As pessoas mais inteligentes acreditam que os repórteres não devem pôr opinião no que escrevem. "Mas essas mesmas pessoas se livrariam mais facilmente da própria pele do que de suas opiniões", ironiza Kinsley. Ora, se elas não conseguem, não podem exigir isso dos jornalistas. Kinsley argumenta, em defesa do opinionismo: "Jornalistas que alegam que não têm opinião sobre o que escrevem ou são destituídos de curiosidade, ou não refletem sobre o mundo a sua volta. Num ou noutro caso, poderiam ser mais felizes noutra profissão".

Para testar os limites da tal objetividade, Kinsley coloca questões polarizadoras, que não deixam ninguém ficar em cima do muro: um jornal deve se esforçar para compreender Osama bin Laden? Tem que revelar sua preferência entre os Estados Unidos e o Irã? Pode pôr numa reportagem que o Holocausto não somente aconteceu, mas que foi algo ruim?

Em outras áreas além do jornalismo, acredita, a idéia de uma realidade objetiva que pode ser descrita com palavras está fora de moda há décadas. No jornalismo já há modelos sobre uma imprensa pós-objetiva. Kinsley condena a proposta dos que defendem a objetividade: "O jornalismo de opinião pode ser mais honesto do que o jornalismo objetivo, porque não precisa esconder seu ponto de vista". Além do mais, sendo opinativo, o jornalista não precisa perseguir as evidências e, no final, por receio, concluir carregando nas aspas, que é o recurso mais comum utilizado pelos defensores da objetividade.

Contudo, Kinsley enfatiza que deixar de lado a pretensão da objetividade não significa abandonar o que há de mais importante no jornalismo: a precisão factual. Pelo contrário, "a prática do jornalismo opinativo traz obrigações éticas adicionais". Tudo pode ser sintetizado em duas palavras, segundo ele: "Honestidade intelectual". E Kinsley resume o teste da honestidade em quatro questões fundamentais: a) você está escrevendo ou dizendo aquilo em que realmente acredita?; b) você sustenta seus argumentos diante de diferentes situações, mesmo que eles o conduzam a conclusões desagradáveis?; c) você está aberto a novas evidências ou argumentos que podem fazê-lo mudar de idéia?; d) você mantém, por mínima que seja, alguma dúvida sobre os argumentos que escolheu?

Apesar desse libelo, Kinsley reconhece que a forma como o jornalismo opinativo tem sido conduzido na TV americana não é uma grande propaganda a seu favor. "As condições nas quais tem sido praticado tornam a honestidade mais difícil e praticamente não deixam lugar a dúvida", escreveu. Não é de admirar, com a política deliberada de seguir as orientações do Pentágono.

Mas se o jornalismo opinativo se tornou a norma, e não apenas uma exceção desacreditada a essa norma – acredita Kinsley –, ele poderia deixar de ser reduzido com tanta freqüência a uma paródia de si mesmo. "A menos que eu esteja totalmente enganado", especulou. Estaria?

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