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Um olhar sobre uma greve pode ir além de números ou auditorias. Pode-se observar também o direito de um professor, por exemplo, entrar em greve ou o direito do Governo de querer seus alunos em salas de aula. Ou de um sindicato aproveitar uma paralisação para eleger a sua diretoria. Ou de um grupo político evitando um desgaste para eleger-se em 2010 (falta um ano e dois meses para a eleição).
Para quem estuda na escola Maria Ivone, no conjunto Eustáquio Gomes, o Direito (com “D” maiúsculo) não interessa em quase nada. Nos quadros negros aos pedaços, eles aprendem aquela lição da “Revolução dos Bichos”, de Orwell: todos são iguais em Alagoas. Mas, existem os que são mais iguais que os outros e como eles não estão neste grupo, não sabem que o Ministério da Educação investirá, até o ano que vem, R$ 180 milhões no Estado para recuperar escolas, como a Maria Ivone.
Eles também não entendem porque um relatório do Tribunal de Contas de Alagoas, divulgado mês passado, aponta a existência de mais dinheiro sendo enviado a Assembleia Legislativa, sem necessidade. “Eles são mais iguais que nós”, poderia analisar. E o relatório da Educação, elaborado pelo Ministério Público Federal? R$ 200 milhões desviados. E a Operação Gabiru, dinheiro da merenda escolar? Mais de R$ 1 milhão evaporados. Nem se leva em conta as operações Carranca, Taturana. Não era dinheiro da educação. Era dinheiro. Com ele não se negocia nem reajuste nem o fim da crise nos cofres públicos.
Mas, voltando ao aluno da escola Maria Ivone: eis que sua instituição de ensino é a imagem da desposessão psicológica. O prédio é moldado e entregue para pobres, a ralé. Os alunos sabem que ali são menos iguais que os outros. O lugar é alugado, pertence a um deputado federal, e o estudante sabe bem como a política trata a educação: as portas dos banheiros estão quebradas; os bebedouros, enferrujados; na hora da merenda, mil alunos se revezam para beber água em 15 copos. As instalações elétricas estão podres; o prédio está rachado, ameaça ruir. Se ruir, quem estiver dentro morre: não existe saída de emergência. Se for um incêndio, também morre quem lá estiver: não há saída.
O retrato da família deste aluno é dos piores. E na sala de aula minúscula com 60 alunos, sem ventilador, é quase um milagre ele não sair dali e ganhar dinheiro vendendo “nóia” para os presídios, pertinho da escola. E ele nem sabe que o mercado das drogas movimentará R$ 100 mil, até o final deste ano no Estado. Porém, este aluno não ignora que os pobres são os mesmos em qualquer lugar: sujos, fedidos, preguiçosos, incompetentes, dependentes do Bolsa Família, ladrões, drogados, mal educados, burros…
Também eram assim os escravos, vindos da África: arrancados da terra-mãe, apinhados em navios negreiros. Se sobrevivessem às doenças ou a fome e a sede, chegavam ao Brasil menos iguais que os outros. Como os pobres de hoje, os negros tornados brasileiros apenas ajudaram a erguer um País.
Estas lições, o aluno da escola Maria Ivone não consegue aprender. Como seus parentes- os escravos- deve entender apenas que a pobreza e a greve são assim mesmo: elas têm o lado A e o B. Esse aluno pode até se reconhecer um cidadão com direitos e deveres. Porém, ele já conhece seu destino de cor: naquelas paredes cheias de dificuldades, ele sempre será menos igual que os outros.

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