Luis Vilar
Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.
Se fosse um jogo de futebol, poderia ser dito que os deputados afastados deram um nó técnico na oposição. Advinha então quem é o técnico dos 12 parlamentares que votaram pelo continuísmo de uma Mesa Diretora manca na Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas? O nome é óbvio: Antônio Albuquerque (sem partido). Ao menos é o que aponta os opositores, principalmente quando o assessor direto de Albuquerque, Antônio Pádua, passa de um canto para o outro com o celular. A cena se repetiu na tarde de hoje, durante as eleições dos cinco cargos vagos.
Ao avaliar a perda para o grupo “dos afastados”, como uma derrota sofrida por toda a sociedade alagoana, Judson Cabral (PT), disse que quem perde é a sociedade. De certa forma é bem verdade, afinal o parlamento perdeu a chance de demonstrar independência. Por sinal, o novo presidente interino Fernando Toledo fugiu da principal pergunta feita pelo jornalista Odilon Rios.
Rios perguntou a Toledo: “Dá para garantir que não existirá influência do grupo afastado nas ações desta atual Mesa Diretora?”. A resposta do deputado foi mística: “Isto é algo que vamos esperar o tempo para mostrar”.
Toledo também não quis – ou não pôde, –falar de possíveis mudanças na equipe auxiliar da Mesa Diretora, entre elas – como cobra a oposição – a saída do procurador da Assembléia Legislativa, Marcos Guerra. Ele já foi chamado inclusive de “moleque de recados do grupo afastado”. A expressão não é minha, mas sim do deputado estadual Jefferson Moraes (Democratas).
Fernando Toledo deu a entender que assumiu constrangido. Segundo ele mesmo, precisou fazer muitas orações, reflexões e relutou muito até chegar ao cargo de presidente. Agora, o tucano tem como aliados Jota Cavalcante (PDT), que fará às vezes de ordenador de despesa, Carlos Cavalcante (PTdoB), Gilvan Barros (PMN) e Marcelo Vitor (PTB). Porém, estes senhores – que agora ocupam os cargos diretivos – vão viver sobre a pressão do grupo afastado e da sociedade. Podemos dizer que eles já assumem sob os olhos da ojeriza popular.
O “nó tático” se deu da seguinte maneira. Na calada da noite, o grupo afastado conseguiu – por meio de telefonemas e encontros – cooptar alguns dos que também defendiam a eleição de uma Mesa Diretora por completa. Marcelo Vitor, por exemplo, ganhou um cargo. Fernando Toledo pode ter vislumbrado uma boa chance de se tornar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Para alguns demais, vai que valeu apenas a relação “rabo preso”.
Mas foi assim, e às 17 horas, o grupo que acompanhava Gilvan Barros (PMN) entrou na Assembléia Legislativa de forma sorridente, contente, e sem esconder de ninguém que se fez o consenso.
Do outro lado, sem correlação de forças, só restou à oposição espernear e – em protesto – votar nulo ou branco. Foram sete votos. Três são bem claros: Judson Cabral (PT), Rui Palmeira (PR) e Paulo Fernando dos Santos, o Paulão (PT). Paulão classificou os novos dirigentes da Casa Tavares Bastos como “fantoches”. Rui Palmeira foi além: “fantoches manipulados pelo celular”. Mas nada tira a alegria dos deputados afastados, que mantêm suas cadeiras livres da ameaça chamada transparência.
O desembargador Antônio Sapucaia fez a sua parte e afastou os deputados indiciados pela Polícia Federal, para que estes não atrapalhem as investigações que podem passar a Assembléia Legislativa a limpo. O STF manteve a decisão. O STJ também. Estranhamente, só quem não afastou os deputados afastados foi a própria Assembléia Legislativa, que hoje deu mostras claras disto. Para a sociedade, resta apenas o sentimento de indignação. Pois não se trata de um pré-julgamento, mas sim de colocar os suspeitos em seus devidos lugares, enquanto a verdade – em meio a este parlamento que mais parece a Alegoria da Caverna platônica – não vier à luz de forma completa.
Depois de eleito, o terceiro interino Fernando Toledo prometeu compromisso com a sociedade alagoana, mas sem poder negar de forma contundente as relações mantidas – no escurinho do cinema – com os afastados. Apenas Gilvan Barros – que também passa a fazer parte da Mesa Diretora – disse que “não há influência, mas sim um diálogo, um bom senso que deve nortear esta Casa, com independência e bom relacionamento”. Diálogo do qual os opositores ficaram de fora. Diálogo que aconteceu em uma Assembléia paralela, que não funciona na Associação Comercial, mas sim em hotéis, escritórios e outros lugares.
Por fim, o primeiro ato de Fernando Toledo na presidência. Encerrou a sessão de hoje desprezando o pedido de Judson Cabral (PT) para se pronunciar em nome da oposição. Paulão deixou o parlamento indignado com isto: “Começou muito bem esta Mesa”, ironizou o petista. Se o título de “fantoche” dado por alguns opositores fará sentido, só o tempo – como coloca Toledo dirá – mas, que a nova Mesa Diretora já assume sob suspeição, isto assume! No mais, encerro com uma frase de Judson Cabral durante a sessão: “Não há uma nova Mesa. É um continuísmo. Só mudaram as pessoas. É só pegar o histórico dos eleitos. Quem sofreu a derrota foi a sociedade”.
Antes de encerrar, não poderia deixar de colocar que Marcelo Vitor (PTB) foi eleito também para compor a direção da Casa. Lembram dele? Se vocês não lembrarem, perguntem a algum funcionário da Ceal, ele deve lembrar.