Usuário Legado
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Os beijos e os abraços são inconfundíveis. Lá vai o candidato a prefeito descendo as barreiras, as grotas, as areais das casas salpicadas com pedaço de qualquer coisa. Oferece sorrisos, afagos, chamegos. E promessas. Revela-se o salvador, o herói contra os moinhos de vento da corrupção, da miséria.
Ele se revela em seus favores. É sempre poderoso naquele instante. Pode tudo. Faz tudo. Carrega a vara de condão, o dedo de Midas. Da estrela na ponta da agulha saem safirinas soluções para a pobreza, a concentração de renda, as necessidades mais urgentes.
É um grande príncipe. Compra a tropa que os acompanham e a nova tropa da grudenta periferia. Neste comércio, seu lado usa a perpétua (e explicável) alternativa do passado. Faziam os barões, usavam os nobres e soltam-se aos pobres.
Não seria um regime escravocrata? Montesquieu falou sobre isso no século XVIII. É interessante perceber seu conceito sobre isso. Nada de algemas, calabouços, açoites ou a cor da pele característica para explicar a desgraça alheia e a má-sorte.
Há apenas o sistema. O que é a escravidão, para o homem que escreveu o “Espírito das Leis”? “A escravidão propriamente dita é o estabelecimento de um direito que torna um homem completamente dependente de outro, que é o senhor absoluto de sua vida e de seus bens”.
Assim, o nosso candidato-herói, em busca da periferia e as dependências de seus favores, tem em seu quintessência a permanência do direito dos pobres de continuarem como e onde estão.
A cidade seria muito cara, se eles dali saíssem.
O custo de vida aumentaria, com tantos consumidores, caso integrados ao restante dos homens.
Não se pode aceitar que Deus integre em sua lista de vitoriosos o nosso bravo candidato, dividindo espaço com aquelas almas negras de cor e de aspecto, sem senso comum de realidade (sim, porque só nosso postulante a cargo público merece nela estar, não esqueçam).
Impossível, portanto, acreditar que seres humanos pisando em lama, cheios de piolhos e almas de coitado sejam iguais perante às leis, feitas para todos.
Porque assim seria acreditar que nosso candidato seja pobre, como eles. Idéia repugnante, creia a sua tropa disputando o espaço dos sem-nada para a busca do quase-tudo.
Por isso, nosso herói tem em mente aquele sentimento de piedade ou misericórdia. Mas, não é tempo de mudar aqueles caos. É tempo de criar a sua Corte e viver o luxo sólido do Grande Ser. Ser senhor.